Muitas pessoas não conseguem perceber a semelhança do
carnaval brasileiro com as festanças promovidas eventualmente pela Casa Grande depois
de algum castigo no pelourinho, onde alguns escravos eram açoitados pelos
feitores. Dessa maneira, eles acalmavam os ânimos revoltados dos outros
escravos ou escondiam suas crises financeiras dos olhos dos outros senhores de
engenho.
Era uma festa barata, regada com muita cachaça e algum alimento
de péssima qualidade que provavelmente ninguém queria comer na Casa Grande. Os
escravos que eram proibidos o ano inteiro de bater seus tambores e dançar os
seus ritmos tribais, nesse dia eram liberados e no dia seguinte o trabalho era
dobrado. Ninguém reclamava, ficavam até agradecidos aos seus senhores.
Quando levanto a questão do festejo popular, não quer dizer que
condeno a vontade das pessoas em se esbaldarem durante tantos dias numa farra
chamada Carnaval e sim, fico preocupado com as consequências. O país como o
Brasil que pretende resolver os seus problemas históricos, fica praticamente paralisado pouco antes do Natal que culmina este período estéril na suposta quarta feira de cinzas.
Depois de tanto tempo com as engrenagens oficiais e particulares
estagnadas, só podemos supor que qualquer país colocaria um limite para reduzir
o desperdício. Mas no Brasil eles aumentam todos os anos os dias de festejos
que se tornam um feriado inexistente, mas consagrado. O motivo fica suspeito e
as indagações questionando tudo isso, se tornam malditas.
Depois do Golpe de Estado de 2016, desapareceu a alegria
verdadeira do povo brasileiro, retrocedemos ao que o tornou famoso no mundo inteiro, nomeando
nosso país de “Republica das Bananas”, também cedendo lugar a uma hipocrisia triste e coletiva
da classe média. Eles propagandearam uma crise econômica falsa e gastam sem
remorsos e sem limites em camarotes carnavalescos em Salvador que cobram até R$ 3.000,00
por dia. Estamos mesmo numa crise? A quem atingirá?
Por outro lado, os contumazes defensores da ampliação dos
festejos carnavalescos alardeando que a festa beneficia o povo, que
supostamente produz um ganho, geração de renda. Pura falácia, pois não passa de
uma ilusão. Os vendedores ambulantes pensam que ganham dinheiro, mas no fundo
estão sendo manipulados para favorecer aos grandes empresários que distribuem seus
produtos sem qualquer risco, a exemplo da cerveja.
Enquanto isso, nós brasileiros deveríamos ter vergonha em
expor os mais desvalidos que durante os carnavais dessa vida se prostituem
diante dos turistas estrangeiros. Dos que se sujeitam ao sacrifício de dormirem
nas calçadas, nos gramados e sobre caixas de papelão por todos os lados para
vender tudo que é coisa imposta pelos ricos industriais, os senhores da Casa
Grande.
Em fim, precisamos enxergar o malefício dessa festa e não
apenas o espetáculo que só mostra a beleza ou alegria feita de isopor, mas no
fundo esconde a miséria do povo, não mostra os lucros gordos depositados nas contas
bancarias dos empresários gananciosos. Ou seja, quem ganha são sempre os
mesmos. Infelizmente caberá sempre ao povo apenas as sobras do banquete.