O silencio sobre as invasões estudantis nos noticiários é uma afronta a inteligencia dos brasileiros. É lamentável não termos uma imprensa decente.
O preço para manter uma imprensa livre é muito alto. Não se sustenta. Fica quase sempre impossível sobrepor o controle capitalista. Um jornal, uma TV, uma emissora de rádio, tudo é financiado pelos donos do dinheiro, os empresários golpistas, que investem em propaganda. Sem elas, não há como pagar salários, comprar papel e todas as outras despesas inerentes ao processo. Os clientes não podem ser contrariados.
O preço para manter uma imprensa livre é muito alto. Não se sustenta. Fica quase sempre impossível sobrepor o controle capitalista. Um jornal, uma TV, uma emissora de rádio, tudo é financiado pelos donos do dinheiro, os empresários golpistas, que investem em propaganda. Sem elas, não há como pagar salários, comprar papel e todas as outras despesas inerentes ao processo. Os clientes não podem ser contrariados.
Por isso precisamos relembrar a
história. No Brasil já existiu uma imprensa de qualidade, embora, a ditadura
militar e os governos subsequentes fizeram questão de falir. Sem medo de ser
feliz, posso contar a minha experiência, ou parte dela para não me tornar
cansativo.
Durante o rigor da ditadura militar,
em meados de outubro de 1969 a Tribuna da Bahia foi definitivamente para as
ruas, uma sensação jornalística por vários motivos, inclusive por ser o
primeiro jornal impresso em OFSETE. Transformou-se num marco político e de
compreensão ideológica muito grande para mim.
Nessa época, o jornal que representava
a esquerda na Bahia, era o Jornal da Bahia que sofria com o bloqueio econômico
imposto pela ditadura e do governo do estado da Bahia, na época o famigerado
Antonio Carlos Magalhães, já falecido (ACM).
Até hoje eu ainda não posso definir a
postura ideológica do homem que fundou a Tribuna da Bahia Um empresário que
nada sabia de jornal, mas possuía uma visão justa. Ele foi corajoso, isso
ninguém poderia negar. Contratou como Editor Chefe, o melhor que poderia ser
localizado no mercado. Quintino de Carvalho, um jornalista idealista,
declaradamente de esquerda, torturado e quase morto por Getúlio Vargas, vindo
do Jornal do Brasil no Rio de Janeiro. Ele implantou na Bahia a imprensa
democrática e ideológica.
Sendo eu um jovem com 17 anos, cheio
de adrenalina me impulsionando para o combata ao regime militar, trabalhar como
repórter na Tribuna da Bahia me ensinou a ter a visão ampliada para suportar as
diferenças ideológicas. Ali, encontrei um celeiro de ideias revolucionárias e
ao mesmo tempo outras mais contidas e até mesmo burguesas, embora, nunca
reacionárias.
Para que todos os que não viveram
essas experiências possam entender melhor as situações que vou narrar, me sinto
obrigado ao esclarecimento do que aquele momento significava para a imprensa e
para nós, os militantes Socialista ou Comunista.
Em todo o Brasil, a ditadura Militar
começava a matar com mais frequência os militantes, ou supostos militantes, de
esquerda. A tortura como método de eliminação, estava penetrando no seu grande
momento, no auge. Era o terror legalizado pelo governo inconveniente da
Ditadura Militar.
Muitos que foram presos, torturados
ou mortos, nunca nem passaram por perto de um compromisso ideológico. Alguns
nem sabiam o motivo de tudo aquilo. Sem saber, os Militares estavam criando
alguns heróis que apenas acreditavam na liberdade de pensamentos, queriam ser
honestos ou até mesmo estavam no local errado, na hora errada ou conheciam
pessoas erradas.
Alguns militares, ignorantes e
violentos, pareciam ansiar e até mesmo sofrer com a necessidade de se tornarem
vilões históricos. Inventavam inimigos. Para que sejamos justos, frisamos que
havia militares de esquerda e outros que apenas se mantinham quietos por conta
de uma disciplina interna.
A imprensa foi amordaçada, na Bahia e
no Brasil, nem foi necessário muito esforço, os jornais era todos favoráveis ao
Regime Militar. A Tribuna da Bahia e o Jornal da Bahia, de maneira inesperada e
surpreendente, foram vozes discordantes. Sofreram, mas resistiram.
Atualmente não possuímos mais nenhum
jornal ou emissora de TV, ou rádio, que seja livre do domínio oligárquico da
direita. As concessões foram distribuídas, e continuam assim, nas mãos dos
velhos e conhecidos “coronés”. Mas vale a pena saber que um dia tudo foi
diferente. Por isso, somos obrigados a amargar a manipulação das informações de
maneira covarde impetrada pela elite que não gosta que o povo pense por conta própria.
Entre os inúmeros episódios que
presenciei trabalhando na Tribuna da Bahia, cito um que foi para mim um símbolo do
autoritarismo e crueldade dessa mesma direita que hoje está no poder depois do
Golpe de Estado de 2016.
O Editor Chefe, Quintino, me pediu para ser cobertura na fuga de um casal de jornalistas. Eles não poderiam mais ficar em Salvador ou
seriam presos e mortos pela policia federal. Estavam precisando da ajuda de
uma pessoa que não despertasse suspeitas e eu seria perfeito. Com cara de
menino, sem qualquer envolvimento político aparente, passaria fácil pelos olheiros.
- Eles sabem para onde você deve
levá-los! - Disse Quintino com ar preocupado. – Não tente fazer mais do que
isso! – ele bateu em meu ombro e sorriu. – Já é muito!
Eu me sentia um verdadeiro
guerrilheiro ajudando na fuga desse casal.
Uma semana depois, soubemos que o
jornalista que trabalhava no Jornal da Bahia, um paulista muito culto e
preparado, havia sido preso no meio da rua ainda em Salvador. Sua mulher, outra jornalista,
também havia sido presa, torturada e solta. Ela estava grávida e sofrera muito
nos dois dias de agonia que viveu na Policia Federal. Soube dos detalhes
depois, eu a conhecia muito bem.
O
marido desaparecera. Na policia fingiam que ele nem existia. Com a intromissão
de Quintino, ela ficou sabendo que ele havia sido levado para Recife. Foram
mais de cinco anos de angustia até ter certeza do paradeiro dele e receber um
atestado de óbito. Ele foi um dos presos jogados de um avião em alto mar.
CORRETO
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