domingo, 9 de março de 2025

ÓDIO ARTIFICAL DO POBRE DE DIREITA

 

Só mesmo sendo desonesto ou politicamente escroto, justifica manter o discurso construído artificialmente pela Globo para sustentar o ódio contra o PT na farsa da LAVA JATO, dos juízes LADRÕES, que obedeciam aos patrocinadores estrangeiros, e LACAIOS dos chamados ENTREGUISTAS. Alguns deles ficam em silencio, mas outros, geralmente os mais tacanhos politicamente, dizem sem argumentos validos que não votam no PT de forma alguma. Preferem votar no inimigo rico. Apanham com prazer e oferecem cafezinho ao dono do chicote.

Quando o “POBRE DE DIREITA” tem um ódio artificial incutido culturalmente pelo medo da chibata, defende quem realmente está roubando o que lhe pertence, os direitos, mesmo sabendo que Lula nunca roubou, não descobre que perdeu o rumo da sua inveja, não consegue se livrar de argumentações descabidas que pertencem ao passado, ao tempo da tentativa de desmoralizar o PT e tirar Lula da corrida presidencial. Reconhecer sua inutilidade como cidadão o assusta. Não conseguem mais defender os Fascistas abertamente, não encontram argumentação e muito menos justificativas logicas para seu discurso inativo, fora da realidade.

O certo mesmo, é que eles nem sabem ou fingem desconhecer a importância do Partido dos Trabalhadores (PT), no cenário político do FUNCIONAMENTO DO CONGRESSO, brasileiro (É CLARO). Alguns pensam, que estamos nos EUA. Não está sendo por um mero acaso que existem deputados abraçadinhos com TRUMP querendo arruinar o Governo atual e continuar no processo de desvalorização do Brasil e desqualificação do povo brasileiro.

A criação de um partido que não era dominado pela ELITE, rica e covarde, incomodou muito. O PT elegeu deputados, Senadores e foi pra dentro denunciando, se fazendo de elemento da mudança. Para a Direits, era imperdoável deixar a mamata na boca do povo. Antes, as maracutaias não saiam de dentro das panelinhas partidárias dos políticos de Direita, tudo era apenas sussurrado e a imprensa maldita os acobertavam.

Ainda hoje eles tentam espalhar o ódio contra LULA e contra o PT, e a todo instante transformam uma suposição em alarde, em escândalo criado artificialmente. Nunca desmentem nem pedem desculpas. Observem muito bem quem ainda defende Bolsonaro, quem continua chamando LULA de Ladrão, provavelmente é alguém muito medíocre ou um verdadeiro ladrão. Assaltante sem caráter, que não consegue sair do “armário” que está na casa dos outros.

segunda-feira, 3 de março de 2025

OSCAR: VITÓRIA POLÍTICA DA CULTURA BRASILEIRA

 

Só felicidade. O Brasil merece ter sucesso e não, ser submetido ao constrangimento dos fascistas. Vencer uma premiação da academia de cinema Norte Americana, com uma obra icônica e genuinamente brasileira, significa muito mais do que uma estatueta, já que vivemos uma batalha de defesa da nossa soberania, contra o Fascismo bandido por aqui e o Imperialismo Selvagem dos EUA. A esquerda brasileira está sendo desafiada a mostrar que “AINDA ESTAMOS AQUI...”. Que lambedores de Tramp e demais, respeitem nosso país.

Desde o GOLPE MILITAR DE 64, onde a Cultura e a Educação, foram deliberadamente massacradas no Brasil dos Generais, a luta pela DEMOCRACIA passou a ser gênero de primeira necessidade, assim como o feijão e o arroz. A vitória do filme brasileiro foi muito maior do que se pode imaginar. Na terra de Trump Nazista, mostramos ao mundo inteiro o que os fascistas tentam esconder.

Sem medo de ser feliz, um filme representa o pensamento de um povo que precisou se esconder, lutar com sussurros por quase 30 anos. Ver seus filhos, pais e netos morrerem nas celas das prisões militares só produzia mais convicção de que seria mais do que necessário defender a democracia. Não adiantava ficar trancado nos quartos, eles inventavam uma nova maneira de reprimir até os silenciosos.

Dizer não a tudo isso significava romper o silencio, o medo do povo, a covardia dos militares e a propaganda mentirosa financiada pela ELITE cruel e exploradora, que atualmente é a ainda a base dos golpistas, liderados por crápulas assassinos, que depois de desmascarados, imploram por anistia.

Vamos comemorar muito a vitória de um filme que mobilizou não só os brasileiros. Cutucou o mundo inteiro com uma verdade pura, simples e muito real. Walter Sales, rico, de esquerda, ao contrário de muitos que defendem ESTADO MINIMO e privatizações, não pegou dinheiro com o ESTADO, mas acredita ser necessário e VITAL, investir na Cultura. Mostrou que ter dinheiro nem sempre é ficar mancomunado com planos Golpistas, ele é um Herói que escapuliu da maldade de uma elite capitalista e hoje faz parte do BRASIL que precisamos.

sábado, 22 de fevereiro de 2025

O CRIME ELEITORAL DA ELITE BRASILEIRA

 


NÃO ADIANTA FUGIR


O maior crime de uma sociedade é destroçar de maneira proposital suas bases sociais, políticas e administrativas, jogando o povo na ciranda da agonia. Com a chegada burlesca de um presidente imposto pela mentira, (TEMER) e depois da LAVA JATO, todo o conjunto de preparação do GOLPE liderado por um Juiz contratado por poderes estrangeiros para executar o descalabro, estava pronto. Um brasileiro aceitar o papel de traidor, já mostrava com quem estávamos lidando.

No plano eleitoral direto, não foi engano, quase todos já conheciam o fanfarrão, covarde e mentiroso, que nada fazia como deputado, queria apenas falar em dar GOLPES, Explodir prédios e fazer uma Guerra Civil, desde que fossem outros morrendo e nunca ele na linha de tiro. Agora, todo melado na merda, fica pedindo ANISTIA. Parece criança que mata o gato e fica pedindo desculpa quando tudo é descoberto. Nem a cadeia será suficiente para compensar o estrago feito por ele e seus asseclas. Cobraremos deles todo o prejuízo econômico, social e histórico sem qualquer constrangimento.

A escolha não foi nunca coisa difícil, estávamos caminhando para uma eleição tranquila onde LULA seria novamente eleito. Até depois da prisão, Hadadd seria eleito sem a campanha esmagadora da EXTREMA DIREITA. Neste momento aprontaram uma FARSA, “A Lava Jato”, sustentada por uma MÍDIA QUE ABSUSOU DA MANIPULAÇÃO. Não havia outro ser desprezível para vestir a roupa de lacaio, que segue as manobras de maneira inquestionável. Era um verdadeiro MICO de caixa dos desejos da Elite sempre ansiosa por poder.

O golpe já estava sendo desenhado pela CIA (EUA), já que eles querem o BRASIL como uma colônia de domínio total em cumplicidade plena da nossa ELITE cruel, covarde e desprovida de pudor. Não ficou nem uma pontinha de dúvida quando a DIREITA jogou no ar o nome de um INÚTIL para presidente, um politico medíocre que nunca aprovou e não propôs um só projeto, só golpes, torturas, bombas e assassinatos.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

 UMA POSTAGEM HISTÓRICA


ROMANTISMO POLÍTICO IDEOLÓGICO
MILITÂNCIA SEM FINS LUCRATIVOS


“Fazemos política o tempo inteiro, até na hora em que acreditamos termos nos afastado dela".

Falar de um assunto político de maneira agradável, como quem descreve uma situação de romance ou do cotidiano, é uma metodologia que nem sempre é explorada. Quase sempre, nos deparamos com discursos eloquentes, que não permitem muitas discordâncias ou participações. Quem discursa se coloca como o dono da verdade e fim de conversa. Mesmo que seja numa mesa de bar entre amigos.
Quando a proposta é técnica e estamos estudando o tema, suportamos a leitura de um texto ou livro assim, no entanto, a maioria das pessoas que não viveram com mais intensidade momentos políticos pessoais, detestam prolongar o aprofundamento desse conhecimento. Faz sentido. Torna-se muito chato aquele que apenas quer se impor a quem busca detalhes menos filosóficos ou arrogantes.
Existem vários tipos de chatos, entre eles posso citar o “provocador”, aquele que sabe da sua posição ideológica e fica puxando assunto para lhe contrapor, de maneira agressiva, e finalmente lhe rotular como “Radical” assim que percebe não possuir mais argumentações. Outro tipo muito comum é o “chato Integral”, não sabe mudar de conversa quando ninguém quer falar do assunto. Eles habitam no mundo, tanto da direita como da esquerda.
Foi por causa de um “chato Integral” que escrevi esse livro com um formato diferente.
Eu estava bebendo uma cerveja com minha mulher, despreocupado e pensando apenas em aproveitar a noite de sexta feira para relaxar. Casualmente, um conhecido passou na rua e eu o cumprimentei. Foi o maior erro da noite. Ele sentou na minha mesa e começou a fazer seus discursos ideológicos citando situações que nem eu sabia identificar. Tentei por diversas vezes encaminhar a conversa para outras coisas, mas ele insistia.
Depois de meias hora, eu já não suportava mais a conversa. Paguei a conta e fui embora. Mesmo entendendo e concordando com a posição política dele, conhecendo algumas pessoas envolvidas no assunto, não era o que eu queria conversar.
Ao voltar para casa, diante das reclamações de minha mulher, comecei a refletir e entender o que acontece com a maioria das pessoas. Elas se afastam da discussão política por não conseguirem entender a chatice contida na maneira de falar do assunto, de quem está propondo o tema.
Será que numa conversa sem imposição do tema teórico, com o objetivo de avançar na explicação ideológica, teríamos mais sucesso? Ao trazer o leitor para a realidade em que é possível encontrar identificação, acredito que qualquer assunto pode se tornar interessante.
Vamos interagir com muitas ideias? Trocar experiências?

1ª PARTE

Mesmo sem qualquer sofrimento, apenas lamentando, agora admito que eu esteja com muita saudade do tempo inocente do meu romantismo ideológico. Não me arrependo de ter acreditado que poderíamos mudar a humanidade partindo de uma questão Social Política. O mais importante, é que ainda consigo acreditar nessa possibilidade.
Nossa juventude, agora bem mais velhos, tem saudade da famigerada “Ditadura Militar” instituída depois do golpe militar de 1964. Ela foi um câncer, no entanto, na doença havia um ponto agregador. Queríamos mudar o que acreditávamos funcionar de maneira equivocada, errada ou maldosa. Éramos heróis de nós mesmos.
Não vou me prender a fazer um retrospecto histórico com datas definidas.
A manifestação política original em mim, assim como eu acredito que na maioria dos meus amigos companheiros, não continha interesses pessoais. Pensávamos no mundo se transformando numa sociedade justa e igualitária. Nem sabíamos ao certo como isso se daria na prática. Talvez um dia, isso seja possível.
O Brasil só experimentou a Democracia depois que de forma institucional encontrada pelos políticos velhos para acabar com uma sequência militar do poder. Amputamos o cérebro contaminado do Ditador de plantão. Ele estava cercado pela realidade internacional que fez pressão para que a cirurgia fosse feita. Não aconteceu por bondade ou algo semelhante, era a falta de opção política que demandava dos abusos inexplicáveis. As pessoas estavam incomodadas no mundo inteiro.
Aqui no Brasil, o incomodo era um perigo. Os jovens sonhavam com a liberdade e os velhos já haviam deixado de sonhar. Mesmo que os presidentes eleitos fossem civis, de maneira oculta algumas vezes e outras bem claras, eram dominados pelo temor aos militares, uma regra comum desde os tempos da proclamação da republica. Que não passou de outro golpe militar.
Para entender melhor o que passei durante a minha experiência de militante político, preciso dividir com cuidado uma narrativa e não me tornar professoral. Assim, contarei os fatos, narrando acontecimentos, que me levaram a essa ideológica e romântica numa aventura que agora não parece ter alcançado um desfecho satisfatório e feliz. Para isso, envolverei personagens reais e situações do cotidiano.
Ao abordar esse tema, se torna necessário explicar o envolvimento dos militantes políticos nos diversos seguimentos políticos. Agora eu pergunto: Será que a Militância Ideológica e Romântica acabou depois de primeira eleição de LULA? Terceirizaram a militância de esquerda copiando a prática da Direita?


Experiência 01

Aos cinco anos de idade, uma criança elabora seus primeiros ídolos partindo do mundo em que vive. Meu pai, um admirador da Revolução Soviética, apenas conhecia alguma coisa sem se envolver politicamente. Meu Tio e padrinho, irmão de minha mãe, era um político, Deputado Estadual, eleito pela Maçonaria sem precisar fazer campanha.
Naquela época, os partidos e o processo das eleições eram diferentes, muito confusos. O Governador era Antônio Balbino. Embora Balbino fosse de um partido contrário ao de meu tio, os dois eram amigos na intimidade. Não sei o motivo de ter me tornado na época um admirador desse governador tão criticado politicamente pelo meu tio. Não me lembro de ter escutado meu pai falar contra nem a favor. Minha mãe concordava com o irmão.
Na minha casa, estávamos mais preocupados com a nossa sobrevivência. Não estava fácil. Meu pai ganhando muito pouco trabalhando como representante de laboratório, distribuindo remédios para os médicos receitarem depois. Minha mãe, economizando como podia para fazer a comida do dia a dia.
Num dia de sábado, minha mãe me levou até o casarão onde meu tio morava, ele sempre comprava um pouco mais de carne de boi e depois dava para completar nossa semana alimentar. Assim que chegamos, ele estava em casa, e me chamou para uma conversa distraída. Ao saber que eu gostava de Balbino, me ensinou como eu deveria falar sobre o meu herói.
- Então... Você gosta de Balbino? – Indagou meu tio sorrindo.
- Gosto! – Respondi timidamente.
- Ele é um rapaz direito! – Disse meu tio colocando o polegar direito na palma da mão esquerda e depois girou a mão. – Faça isso toda vez que perguntarem a você sobre Balbino.
Na minha inocência, repeti varias vezes o gesto dizendo “Balbino rapaz direito”. Meu tio gargalhava e todos se divertiram muito com a minha ignorância. Não fazia a mínima ideia de que estava chamando meu herói de ladrão.
Algum tempo depois, no dia do aniversário de meu tio, havia uma festa na casa dele. Chegando ao casarão, meu tio me pegou pela mão e diante dos amigos fez a pergunta. “Quem é Balbino?”. Muito cheio de orgulho, coloquei o meu polegar na minha palma da mão e mostrei repetindo as palavras “Rapaz Direito”. Todos se divertiram muito. Um desses amigos, de meu tio era o próprio Balbino.
Fui apresentado para ele que sorria muito. Ele me abraçou e me explicou que com aquele gesto eu o chamava de ladrão. Fiquei muito envergonhado sem saber o que dizer. Era inacreditável que meu padrinho estivesse me enganando. Pouco depois, Balbino foi embora me prometendo que queria mandar me buscar para passar o dia com ele no Palácio de Ondina. E mandou mesmo um carro oficial me buscar uma semana depois.
Relembrando esse episódio, começo a acreditar que tenha sido esse conjunto de situações que despertou o militante político, sonhador e romântico. Cada pessoa pode ter um gatilho que dispara a sua convicção, a sua ideologia. Talvez essa brincadeira tenha desencadeado o meu interesse, me fez observar com mais cuidado um mundo que poucos conhecem. Não aprendi quase nada, continuei defendendo meus Balbinos, apenas por prazer e afinidade.
Minha militância política estava deflagrada. Passei a ter candidatos preferidos em todas as eleições que tive a oportunidade de viver. Mesmo antes do meu primeiro voto.

Experiência 02

Até a minha adolescência fui mantido apenas como admirador do processo político. Havia muito medo e preconceitos na minha casa. Esse isolamento político, sem qualquer duvida, foi um prejuízo muito grande para minha formação de uma consciência política madura e bem sustentada ideologicamente.
Esse mal era uma doença causada pela ditadura eterna, que quase todos no Brasil fingiam algumas vezes não existir. No entanto, mais uma vez fui arrancado desse imobilismo quando decidi deixar de estudar numa escola particular e me transferi no meio do ano para um colégio público, o Colégio Edgar Santos no bairro do Garcia.
Em pouco mais de dois meses, eu já aproveitara a minha facilidade para me relacionar e circulava na Escola como um veterano. Mesmo sem grandes conhecimentos teóricos, sabia muito bem me posicionar politicamente. Isso despertou o interesse do grupo que pretendia assumir o Centro Cívico (Antigo Grêmio que foi deturpado pela ditadura).
Para mim não havia interesse no poder e sim no que ele poderia oferecer para possibilitar uma participação mais efetiva no movimento estudantil. Até aquele momento, nunca havia sido deflagrada nem imaginada uma greve no Edgar Santos. O mundo estudantil estava em ebulição, passeatas se tornavam frequentes, muitas com represálias violentas por parte da policia.
Um candidato de uma chapa contrário me definiu muito bem, embora na época eu não tenha aceitado de bom grado. Ele num discurso eleitoral me chamou de “Eminência Parda”. Só entendi o significado real alguns anos depois e me identifiquei completamente. Realmente minha posição não era de atacante, jogava pensando, sempre pronto para chutar e fazer um gol. Mesmo sem a intenção de ser a “Eminência Parda” me mantinha no meio campo distribuindo a bola.
Não sei se isso me protegeu de alguma forma, mas passei sem maiores arranhões essa experiência política. Olha que participei de reuniões secretas da ABES (Associação Baiana dos Estudantes Secundaristas), fiz parte da diretoria da ACEB (Academia Cultural dos Estudantes Secundaristas da Bahia) e cheguei a ser o representante da Bahia na UNE. Isso, no momento mais negro da Ditadura Militar, em 1967 e 1968.
No momento da minha introdução na militância na política estudantil, estava pronto para ser abordado e consequentemente envolvido por um partido de esquerda. Para minha sorte, a incompetência dos movimentos revolucionários se mostrou atuante, ela era frágil e sem interesse, não me levaram para o Araguaia. Eu estaria pronto para pegar em armas.
Com toda a minha parca convicção política, a única certeza que me guiava era o sentimento de repulsa pela ditadura militar. Sabia que era um socialista, e que mais tarde teria de entender o significado disso com mais abrangência, mesmo assim, era um socialista de corpo e alma. Ainda não entendia a intensidade do Socialismo Anárquico. Estava muito abraçado pelo antagonismo Capitalismo verso Comunismo, um passo anterior ao Socialismo proposto pelo movimento Anarquista, uma utopia desejável.

POLITICA ESTUDANTIL

No final do mês de outubro de 1967, acabávamos de tomar posse como a diretoria eleita do Grêmio Olavo Bilac, no Colégio Estadual Edgard Santos, quando a greve geral dos estudantes foi decretada pela UNE.  Era um desafio muito nítido ao governo.
Mobilizamos o colégio e conseguimos uma adesão de quase 100% do turno matutino e vespertino, o noturno era mais complicado. Muitos trabalhavam durante o dia. Pela primeira vez a farda do Edgard Santos se misturava na grande passeata que partiu do Campo Grande em direção a Praça da Sé onde as grandes lideranças fariam discursos incendiários.
Estávamos excitados e ao mesmo tempo amedrontados. Um calafrio percorria nossos corpos a cada minuto. Naquele momento, havia na mente apenas o desejo de protestar, não sentíamos o perigo a nossa volta na dimensão real. Éramos extremamente corajosos, jovens e inconsequentes.
Fomos informados que devíamos seguir pelo corredor da Vitória até o restaurante Universitário, onde algumas lideranças se aglomeravam e juntos, protestariam contra o fechamento do restaurante estudantil. Seguimos aquela indicação como uma massa de pessoas que já nem pensa. Estávamos prontos para a batalha em qualquer lugar.
Nos discursos inflamados de algumas lideranças Universitárias, fomos informados da impossibilidade do grande final ser na Praça da Sé. Seguimos em frente. A polícia estava bloqueando a Rua da Ajuda e Rua Chile. O grande comício estava sendo transferido para o terminal da Barroquinha. A passeata foi iniciada com as palavras de ordem “Abaixo a Ditadura” e “O povo unido jamais será vencido”.
Foi emocionante. Boa parte das pessoas que encontrávamos pelo caminho, aplaudia demonstrando apoio. Alguns até se juntavam a nós e outros ficavam apenas olhando enquanto muitos se escondiam. Logo depois do Relógio de São Pedro, escutamos o ruído dos cascos de cavalos. Era a policia que se aproximava lentamente. Eles estavam chegando de maneira ameaçadora. Cavalgavam no sentido contrário.
O confronto estava muito próximo, mas inesperadamente, vários estudantes jogaram bolinhas de gude na rua e os cavalos começaram a cair derrubando os soldados.  Um deles ao levantar, atirou para o alto e outro mirou nos estudantes que rapidamente se jogaram no chão sobre o passeio ao lado do mosteiro de São Bento. Foi uma rajada rápida e por sorte apenas na direção da parede. Os farelos do reboco caíram sobre nossas cabeças.

Refletindo (revisão)

Com o tempo, ficamos mais velhos e prudentes. Não acredito que numa situação como a que foi narrada anteriormente, eu fosse agir da mesma maneira impetuosa e sem planejamento como aos 14 anos. No entanto, admito que ainda arda em mim, uma lembrança da chama do guerrilheiro sonhador e completamente dedicado ao que acredita e tem como inegociável na sua conduta ideológica.
Por algum tempo, mantive meu envolvimento estudantil numa atividade que variava de acordo com as oportunidades. No entanto, ao que me parece, ser fiel a uma ideologia não é coisa muito fácil. Algumas vezes me sinto um completo “OTÁRIO”. Essa sensação não dura muito, me sinto apenas HONESTO. Onde estavam os incendiários lideres do movimento estudantil depois de alguns anos?
Não julguem, apenas entendam. Quase todos eles foram cuidar da própria vida. Por serem oriundos de famílias tradicionais ou abastadas, se tornaram homens de negocio. Alguns se candidataram a cargos no legislativo e foram eleitos, logo depois eles foram se revelando. Passaram a defender tudo aquilo que antes rejeitavam nos seus discursos.
Existe uma explicação para essa reviravolta ideológica?
Acredito que tudo isso é possível ser entendido quando pensamos na maneira que eles surgiram como lideranças. O movimento na época era abandonado pelos partidos que não injetavam um conhecimento teórico para a juventude. Algumas dessas lideranças, na verdade, eram pessoas insufladas pela própria ditadura para agitarem as massas e em seguida assumirem o controle evitando desdobramentos indesejáveis e revolucionários.
Mesmo diante desse equivoco ideológico, não desmerecemos a importância inesperada que os discursos produziram. Muitos que apenas escutavam passaram a ter um motivo para se aprofundarem nos estudos teóricos e decidirem ideologicamente pelo socialismo. Isso não era um efeito que os militares acreditavam se tornar possível.
A militância estudantil nas escolas é bem diferente do que ocorre nas universidades, mais pura e trôpega. No entanto, ainda é uma fonte de águas límpidas onde se pode saciar a sede sem medo de contaminações. Manter essa fonte sempre limpa, embora oferecendo espaço para que muitos se aproximem dela, buscando corretamente o aprendizado. Devemos encarar essa oportunidade como a mais segura e verdadeira maneira de criar a liderança autentica e estimular a militância ideológica.
Lamento muito que os partidos de esquerda nem de direita, não tenham um olhar atencioso para esse lado, ela nem sempre é levada muito a serio.
Como surgem essas lideranças? O que eles almejam?
Quase sempre são crianças que nem imaginam por onde seguirão. Aparecem como se fossem sugados por uma força invisível da necessidade do momento. São envolvidas por grupos de amigos que geralmente também nem sabem ao certo onde estão entrando. Os motivos são inúmeros, por ser um jovem bonito que faz sucesso com as meninas, um pensador prudente que encontra soluções ou até mesmo por ser apenas amigo de todos.
Eles ainda não projetam sonhos, mas eles são mordidos pelo bicho chamado poder e alguns entendem logo o que isso significa. Poucos são os que prosseguem nessa jornada de maneira consciente e desejada. São assustados pelos mecanismos do medo, que seus familiares herdaram.
Lembro bem do escutei ao ser eleito para a diretoria do grêmio Olavo Bilac. Minha mãe muito seria se mostrou preocupada.
- Você não devia se meter com essas coisas! Pode ser preso!
- Tenho de lutar para ajudar a derrubar essa ditadura! - Respondi vaidoso.
- Política é coisa ruim, todo mundo é ladrão ou acaba muito mal! – Ela lamentou me prevenindo. – Lembre-se que seu tio foi um dos que acabaram mal!

Assim, quase todos os que se arriscam na militância, mesmo que seja apenas participativa durante um movimento especifico, ainda hoje, escutam a mesma coisa. O que fez com que as pessoas passassem a temessem tanto o envolvimento político?

MEDO HISTÓRICO

Para nossa sorte, a elite dominante no Brasil não é criativa. Até hoje faz o mesmo jogo para intimidar pessoas comuns de se aproximarem do poder, de protestarem contra as imposições sociais e políticas  que só aos ricos e poderosos interessam. Eles querem o povo ignorante e fácil de iludir.
Existe um fato narrado sobre um jantar muito elegante num palacete em Petrópolis onde o Imperador Pedro II estava presente. Dizem que um barão ou qualquer coisa assim se aproximou e ao escutar Pedro falar com entusiasmo sobre os seus planos culturais se mostrou preocupado.
- Queira me perdoar por discordar desses projetos. São perigosos!
- Não acredito nisso! – Disse o Imperador. – Onde está o perigo?
- Se esse povo aprende a ler, fica sabendo mais do que precisa, logo, até vão acreditar que podem ser deputados ou até mesmo Imperadores.
- Talvez deputados! – disse Pedro II. – Não se descuide, mas, Imperadores..., jamais!
Pouco tempo depois dessa conversa, aconteceu o golpe militar que proclamou a republica. Basta lembrar que esse pensamento do tal conde ou barão, foi mantido e hoje o PT incomoda muito. Foi eleito um presidente vindo do povo.
Naquela época, como agora, o método era o mesmo. Isso ocorreu durante toda a existência da política brasileira. Eles mantinham ideologicamente a ignorância do povo. Faziam terror jornalístico em forma de boatos de falcatruas e algumas vezes deixavam passar para  publicação. Assim ganhavam duas vezes, destruíam opositores ou rivais e ainda de quebra, afastavam deles o povo que apenas sacudia a cabeça concordando com tudo que não entendiam.
A imprensa sempre esteve nas mãos da elite dominante embora nem sempre escrita por eles, por isso mesmo, o povo se iludia. Quando o jornal falava, a verdade estava ali consignada para sempre. Um desmentido, nem era notado já que a sua publicação não produzia efeito, sem alarde e sem um destaque com a mesma importância da denuncia.
O povo, com a sua honestidade latente, ficava indignado e torcia o nariz. Na outra ponta dessa honestidade havia o interesse pessoal e quase todo mundo queria se aproveitar dos políticos para tentar lamber um pouco dessa gosma nojenta e lucrativa que os enriquecia. Vendiam suas almas sem qualquer constrangimento.
“Todo mundo rouba!” diziam quando eram cobrados pelos que não concordavam com esse ato aproveitador ou não foram chamados para participarem.
Dessa maneira, ficava muito difícil ser honesto de verdade. Só por uma defesa ideológica, os chamados de “Otários” se mantinham longe dessa tentação. Mudou alguma coisa? O que acontece nos dias de hoje?

IMPRENSA LIVRE IDEOLÓGICA

O preço para manter uma imprensa livre é muito alto. Não se sustenta. Fica quase sempre impossível sobrepor o controle capitalista. Um jornal, uma TV, um radio, tudo é financiado pelos donos do dinheiro que investem em propaganda. Sem elas, não há como pagar salários, comprar papel e todas as outras despesas inerentes ao processo. Os clientes não podem ser contrariados.
Em meados de outubro de 1969 a Tribuna da Bahia foi definitivamente para as ruas, uma sensação jornalística por vários motivos, inclusive por ser o primeiro jornal impresso em OFFSET. Transformou-se num marco político e de compreensão ideológica muito grande para mim. Nessa época, o jornal que repre4sentava a esquerda na Bahia, era o Jornal da Bahia que sofria com o bloqueio econômico imposto pela ditadura.
Até hoje eu ainda não posso definir a postura ideológica do homem que fundou a Tribuna da Bahia, ele foi corajoso, isso ninguém poderia negar. Contratou como Editor Chefe, o melhor que poderia ser localizado no mercado. Quintino de Carvalho, um jornalista idealista, declaradamente de esquerda, torturado e quase morto por Getúlio Vargas, vindo do Jornal do Brasil no Rio de Janeiro. Ele implantou na Bahia a imprensa democrática e ideológica.
Sendo eu um jovem com 17 anos, cheio de adrenalina me impulsionando para o combata ao regime militar, trabalhar como repórter na Tribuna da Bahia me ensinou a ter a visão ampliada para suportar as diferenças ideológicas. Ali, encontrei um celeiro de ideias revolucionárias e ao mesmo tempo outras mais contidas e até mesmo burguesas, embora, nunca reacionárias.
Para que todos os que não viveram essas experiências possam entender melhor as situações que vou narrar, me sinto obrigado ao esclarecimento do que aquele momento significava para a imprensa e para nós, os militantes Socialista ou Comunista.
Em todo o Brasil, a ditadura Militar começava a matar com mais frequência os militantes, ou supostos militantes, de esquerda. A tortura como método de eliminação, estava penetrando no seu grande momento, no auge. Era o terror legalizado pelo governo inconveniente da Ditadura Militar.
Muitos que foram presos, torturados ou mortos, nunca nem passaram por perto de um compromisso ideológico. Alguns nem sabiam o motivo de tudo aquilo. Sem saber, os Militares estavam criando alguns heróis que apenas acreditavam na liberdade de pensamentos, queriam ser honestos ou até mesmo estavam no local errado, na hora errada ou conheciam pessoas erradas.
Alguns militares, ignorantes e violentos, pareciam ansiar e até mesmo sofrer com a necessidade de se tornarem vilões históricos. Inventavam inimigos. Para que sejamos justos, frisamos que havia militares de esquerda e outros que apenas se mantinham quietos por conta de uma disciplina interna.
A imprensa foi amordaçada, na Bahia nem foi necessário muito esforço, os jornais era todos favoráveis ao Regime Militar. A Tribuna e o Jornal da Bahia, de maneira inesperada e surpreendente, foram vozes discordantes.
Em pouco tempo, o jornal vespertino concorrente da Tribuna da Bahia se mostrava assustado, mas como era muito conservador ainda mantinha seu padrão arcaico, tanto na impressão como na maneira de escrever suas matérias. Até hoje, esse jornal é mantido por causa do conservadorismo e da fidelidade do tradicionalismo. É bom lembrar, que o Jornal da Bahia era um periódico matutino e o seu concorrente no estado, era horrível.
Os anunciantes também pressionados, só eram vencidos na sua relutância em publicar seus anúncios por causa da tiragem do jornal. Mesmo assim, ficava difícil sobreviver sem as publicidades oficiais. A Tribuna da Bahia, desde o inicio fez a festa, o publico leitor ficou fascinado pelo conteúdo e pela apresentação desse jornal novinho em todos os sentidos.
Antes de começar a narrativa dos acontecimentos políticos vividos por mim na redação do jornal, gostaria de lembrar que além da competência jornalística da Tribuna da Bahia, o Departamento comercial foi estruturado de maneira pouco convencional. Foi assim foi capaz de atrair os anunciantes. Até o governo da ditadura militar se curvou ao imenso poder de circulação desse jornal.

SITUAÇÃO 01

Não havia nem um mês completo de trabalho na Tribuna da Bahia. Ainda estava no período em que os jornalistas são chamados de “foca” e também fazia um trabalho suplementar, era “Radio Escuta”. Ou seja, durante a noite, gravava noticiários importantes e depois selecionava noticias.
No dia 04 de novembro, já cansado, perto da hora de sair do jornal, havia um ultimo noticiário que quase nunca eu gravava, apenas escutava e anotava rapidamente. Era da rádio Eldorado. A recepção era muito ruim, mas deu para escutar que haviam matado Carlos Marighela.
Avisei para Quintino, que nessa hora era a única pessoa na redação e também estava de saída depois de verificar na secretária a diagramação da primeira pagina para o dia seguinte.
- Tem certeza? – ele indagou nervoso.
- Essa é única coisa que consegui identificar e não sei como foi! – Liguei  novamente o radio, a transmissão era pura estática.
- Vou ligar para Saraiva! – Quintino foi para sua sala dizendo. - Ele consegue entender até essa estática. Um Radio Escuta profissional.
De maneira apressada Quintino fez a ligação e logo depois ligou para os outros editores e chefe de reportagem. Em pouco tempo a redação estava repleta de homens sonolentos e nervosos. Vários rádios foram ligados, todos tentavam escutar a noticia em outras emissoras brasileiras que pareciam não saber de nada.
Saraiva era um homem muito interessante. Trabalhava com a Editoria de Esportes. Quase analfabeto, andava vestido como quem dormia enfiado no seu paletó, a gravata gordurosa sugeria que tomara banho de sopa. Aquele homem me lembrava um urso de desenho animado.
Enquanto ele conseguia entender os chiados do rádio, eu não saia do seu lado. Repentinamente ele começou a escrever com aquela letra grande que só ele entendia. Quando acabou esfregou a cabeça.
- Mataram mesmo o homem! – ele levantou-se e pegou o papel. – Era um homem que a ditadura falava muito mal, diziam que era perigoso. Eu não sei quem era!
Nesse momento, eu que achava ser muito bem informado, me dava conta de que também não passava de um ignorante. Não sabia nada de Marighela. Ele era considerado pelo governo, como o inimigo numero um da Ditadura Militar. Naquela noite eu não teria como dormir sossegado. Fui até o arquivo do jornal e fiz uma pesquisa sobre aquele homem chamado Carlos Marighela.
Refletindo:
Nesse momento de minha vida, percebia que meu entusiasmo pelo socialismo se tornava insuficiente para ter uma opção mais clara sobre minha Ideologia Política.  Não avaliava de maneira teórica nem pratica, apenas desejava algo melhor para a sociedade que para mim se tornava cada vez mais decadente e intolerante.
Lamentavelmente, os partidos de esquerda eram elitistas também. Não incorporavam nem dividiam conhecimento. Tudo que eu conseguia saber, quase sempre partia de informações verbalizadas por pessoas a minha volta, que naquele momento possuíam alguma credibilidade. Por outro lado, éramos massacrados pela propaganda do governo nas rádios, jornais e televisão.
Os poucos comentários que conseguia extrair dos militantes de esquerda a minha volta, eram parcos e superficiais. Na verdade, eu ainda nem sabia identificar de maneira objetiva essas pessoas, não penetrava naquele mundo que me atraia por falta de sensibilidade deles.
Só mais tarde, durante a minha militância sindical, esse tipo de horizonte foi escancarado e depois consegui sair da ignorância presunçosa, foi quando finalmente comecei a minha militância partidária. Falarei dessas militâncias em outro momento.

SITUAÇÃO 02

Por todo o jornal circulavam algumas pessoas foragidas das perseguições dos militares ou processadas pela justiça deles. É bom lembrar que era algo completamente absurdo. Primeiro vou contar o que aconteceu com Liminha, um revisor de pouca conversa que parecia sempre assustado ao responder uma pergunta, por mais simples que ela fosse.
Como era ele o melhor revisor do jornal, algumas vezes mantive um breve contato ao explicar alguma coisa pendente em minhas matérias. Ele costumava conversar com quem escreveu antes de corrigir o que nem sempre era um erro e sim um sinal de que queríamos escapar do entendimento da censura. Fazia ótimas sugestões, até mesmo para os “Copy Desck”, os revisores do conteúdo das matérias antes de seguirem para a secretária diagramar.
Alguns meses depois do episódio da morte de Marighela, ainda se comentava muito sobre o assunto na redação. Eu nem percebera que o Revisor Chefe, não aparecia no jornal há mais de dois dias. De maneira casual, escutei um comentário do Secretário com Quintino, ambos se mostravam preocupados com aquele sumiço.
- Agora ele vai ter de ir mesmo! – Disse o Secretário.
- Primeiro vai ter de passar pelas barreiras e sair do Brasil! – Quintino disse calmamente e pensativo. – O pior vai ser conseguir os documentos falsos.
- O partido providência isso quando ele chegar a Foz do Iguaçu!
- Eles estão com problemas por lá! – Quintino suspirou. – Está tudo errado!
- Não havia outra saída! – O secretário levantou-se. – Se ele ficasse aqui, seria preso.
- Ainda bem que soubemos antes! – Quintino Gargalhou. – Eles nem imaginam o paradeiro de Ananias.
- Dessa vez, estamos com vantagem! – o Secretário também gargalhou.
- Mesmo assim, continuo preocupado! – Quintino disse de maneira aflita. – Se pegam ele, todos nós caímos também.

Eu não fazia a mínima ideia do significado daquela conversa. Apenas conseguia entender que o Revisor chamado Ananias estava fugindo dos militares. Naquela noite, eu era o ultimo repórter a sair da redação, na hora que estava voltando para casa no carro do jornal junto com Quintino, ele me convidou para beber com ele um Whisk em sua casa. Morávamos próximos.
Era quase meia noite de um sábado chuvoso. Aceitei o convite de Quintino por não ter nada mais interessante para fazer, também para aproveitar o momento onde talvez fosse possível saciar minha curiosidade.
Depois de me servir uma dose daquela bebida importada que para mim era algo proibido, tanto pelo preço como por significar um símbolo do capitalismo. Ele morava com a mãe já idosa e aos poucos confessou a sua solidão. Parecia muito disposto para uma conversa intima e logo me falou da mulher que amava, mas para não coloca-la em risco, teve de se afastar.
Foi nessa hora que fiquei sabendo que havia sido torturado durante o a sua juventude, pelo governo de Getúlio Vargas e por causa disso, estava com um tumor cerebral que poderia ser a causa de sua morte a qualquer momento. A TORTURA QUE SOFRERA O MATARIA COMO UMA BOMBA DE EFEITO RETARDADO. Ele disse que me contava isso por saber que eu já deveria ter escutado comentários sobre o assunto.
Era muito obvia a minha curiosidade sobre quem realmente era Quintino. Ele percebera minha inquietação nas questões Ideológicas.
Durante essa conversa, escutei uma confissão que para mim se tornou um dos ícones do meu aprendizado. Ele também discordava da maneira como o Partido Comunista conduzia a proliferação do IDEAL SOCIALISTA no Brasil. Pela primeira vez na vida fui encorajado a falar sobre as minhas observações e duvidas.
Até hoje, agradeço a ele ter sido tão honesto e paciente comigo. As informações, transmitidas por ele, serviram de sustentação política para toda a minha vida. Essa conversa não foi única, em varias ocasiões aprofundamos o assunto já que quase sempre saiamos da redação quase no final da noite e morávamos próximos.
O mais interessante foi saber, que mesmo tendo tantas dúvidas, ainda primárias, seguia um caminho correto para estabelecer minhas convicções ideológicas. Com isso, me aproximava do que Quintino criticava e também pensava me deparando com uma surpresa revigorante.
“Mesmo sem ter onde e com quem discutir, estava tendo uma visão ideológica muito clara, embora ingênua.”

SITUAÇÃO 03

Nunca mais esquecerei aquela manhã de quinta feira, festa da Lavagem do Bonfim. Eu acabava de entrar na redação e pegara a minha pauta sobre a mesa do chefe de reportagem. O Editor de Economia estava próximo e eu lhe perguntei quando seria o seu julgamento na Justiça Militar. Ele nem teve tempo de me responder.
A porta da redação foi escancarada e mais de dez soldados, armados de metralhadoras e fuzis, rapidamente invadiam todos os cantos. Um Tenente com uma pistola em punho entrou olhando todo mundo com uma nítida ameaça de que estava pronto para atirar ou mandar fuzilar quem tentasse sair daquele local.
Inesperadamente, Quintino, com seus quase dois metros de altura e seus mais de 130 quilos, saiu de maneira muito ágil e feroz do seu aquário. Ele partiu para cima do tenente com o dedo em riste.
- Mande seus soldados saíram imediatamente da redação!
- Estamos na perseguição de dois subversivos perigosos! – disse o Tenente surpreso e intimidado com a ousadia de Quintino.
- Isso é a redação de um jornal respeitado, não um picadeiro de circo! – Quintino olhou em volta. – Mande seus macacos abaixarem as armas que eu vou ligar para o coronel.
Com um gesto de mão, o tenente obedeceu as ordens de Quintino, para a surpresa geral. Estávamos apavorados mas a conversa que escutamos, ou melhor, os berros de Quintino ao telefone nos fizeram criar coragem e voltar ao trabalho como se aqueles soldados nem estivessem ali.
Todo mundo escutou os berros do nosso Editor esbravejando com o Chefe da Policia Federal da Bahia.
- Que merda é essa, Arthur? Seus filhotes estão malucos ou são idiotas?
(Pausa)
- Amanhã mesmo o mundo inteiro vai receber fotografias dessa invasão e da burrice que estão cometendo. Já sei até a manchete da Tribuna “Aqui não tem nenhum subversivo. Somos jornalistas, pessoas que trabalham”. Não compre essa briga pessoal comigo!
(Pausa)
- Deixo barato se eles saírem imediatamente!
(Pausa)
- Fale com seu Tenente idiota! – largando o telefone gritou – Vem cá tenente!
Como um cão amestrado, o tenente entrou no aquário, escutou algumas ordens no telefone e logo depois arrastou seus homens para fora do jornal. Quintino me chamou no seu aquário.
Rapidamente me contou que um amigo no Rio de Janeiro lhe telefonara para preveni-lo da possibilidade de uma invasão militar na redação. Eles também invadiriam a redação do Jornal da Bahia se não prendessem antes o subversivo que procuravam por lá. Na Tribuna, os procurados eram dois jovens jornalistas cariocas que trabalhavam conosco desde o inicio do ano. Aos olhos de todos, eles eram casados.
Quintino me pediu para ser a cobertura para a fuga dos dois. Eles não poderiam mais ficar em Salvador ou seriam presos ou mortos pela policia federal. Estavam precisando da ajuda de uma pessoa que não despertasse suspeitas e eu seria perfeito. Com cara de menino, sem qualquer envolvimento político, passaria fácil pelos olheiros.
- Eles sabem para onde você deve levá-los! - Disse Quintino com ar preocupado. – Não tente fazer mais do que isso! – ele bateu em meu ombro e sorriu. – Já é muito!
Eu me sentia um verdadeiro guerrilheiro ajudando na fuga desse casal.
Uma semana depois, soubemos que o jornalista que trabalhava no Jornal da Bahia, um paulista muito culto e preparado, havia sido preso no meio da rua. Sua mulher, outra jornalista, também havia sido presa, torturada e solta. Ela estava grávida e sofrera muito nos dois dias de agonia que viveu na Policia Federal. }Soube dos detalhes depois, eu a conhecia muito bem.
O marido desaparecera. Na policia fingiam que ele nem existia. Com a intromissão de Quintino, ela ficou sabendo que ele havia sido levado para Recife. Foram mais de cinco anos de angustia até ter certeza do paradeiro dele e receber um atestado de óbito. Ele foi um dos presos jogados de um avião em alto mar.

Dúvida
Tente se imaginar um publicitário querendo vender um produto Popularizar algo que só muito poucos conhecem. As ideias são inúmeras e será necessário conhecer bem o mercado para que possamos ter êxito. Nem tudo do Capitalismo é exclusivo do pensamento consumista, mas mesmo um ideal, precisa ser consumido.
Um exemplo disso foi o Fascismo Alemão até mesmo durante o inicio da segunda guerra mundial. Ele foi competente para vender a ideia, no entanto, por ser obscuro e incoerente, não manteve o prestigio. Muitos dos defensores do Socialista, no mundo inteiro, chegaram a ter um envolvimento com essa doutrina propagandeada que logo perdeu o foco e se mostrou perversa.
No conteúdo, o Fascismo era bem melhor do que o capitalismo. Como sempre, a aplicação fazia essa ideia ser interpretada de maneira completamente equivocada. O estado controlando tudo era bem próximo do que o socialismo descrevia como sendo modelo para uma nova ordem política. Só restava saber que estado seria esse. A armadilha estava embutida nessa parte pratica da ideia.
Como o mundo era dominado pelo capitalismo, só ficou mesmo a parte negra do Fascismo, a propaganda contrária foi mais competente diante da falta de honestidade Ideológica dos lideres da parte ruim alemã que transformou tudo no Nazismo. Isso não quer dizer que os capitalistas eram verdadeiros.
Voltando ao nosso foco ideológico.
Como conhecer todos esses detalhes sem estudo e muita teoria discutida?
Para um analfabeto político, todos os sistemas de governo terminam sendo iguais. Todos os políticos habitam uma mesma casa. As ideias não são nada além de promessas. Nada muda na sua vida prática.
Onde isso pode ser uma doença e quem será quem permite ela se alastrar?
Nunca confundir uma alguém com postura “ideologísta” com uma pessoa que se define na defesa de uma Ideologia. O “ideologista” apenas veste a ideologia como uma roupa que mais tarde pode ser trocada. Ele é circunstancial e oportunista. Ao que podemos constatar, é ele quem mais ajuda a derrotar um movimento serio e baseado numa Ideologia.
Para que esse tipo de político não se fortaleça, é necessário que seja detectado ainda nos primeiros movimentos. Só com conhecimento do que se defende, entramos numa batalha para vencer. Não adianta nada alguém me dizer que vamos vencer se não conheço a estratégia toda, não sei quem realmente são os amigos ou inimigos.
Aceitar ou discordar é fruto do conhecimento e de muito debate. Os pensamentos e interpretações variam e nunca se pode pensar apenas que o caminho seja aquele que está diante de nossos olhos. O que o outro consegue ver, pode ser diferente e muitas vezes, se somos inteligentes, aproveitamos os bons atalhos.
A esquerda brasileira ficou fechada, não havia como distribuir o conhecimento ou talvez acreditassem que não deveriam. Foi um erro fatal. Até hoje sofremos por causa dessa decisão. O povo continua olhando para um socialista autentico, como um bicho que pode morder seu pescoço. Uma propaganda nociva que a direita soube muito bem se aproveitar.
A culpa é da própria esquerda que não se infiltrou corretamente em todos os níveis sociais. Ficou muito restrita ao chamado mundo da elite contestadora. O povo, a grande massa, continua ignorando o que significa Socialismo. A direita faz questão de confundir o Socialismo com a experiência Soviética, apontando apenas para os erros na aplicação prática.
A centelha para mudar o Brasil teria ocorrido naquele cenário obscuro da ditadura militar, que todos consideramos como triste e negro? Será que perdemos o bonde da história? O momento para avançar teria sido desperdiçado. O povo estaria mais sensível aos discursos teóricos?
Como avançar se apenas poucos conheciam de fato o que falavam em seus discursos eloquentes e incendiários? Muitos, apenas repetiam o que escutavam. Era um sentimento natural contra a ditadura que nem sempre continha uma Força Ideológica definida.
A morte solitária do magnífico “comandante” Carlos Lamarca em 17 de setembro de 1971, fez com que a minha avaliação do movimento de esquerda do Brasil ganhasse um novo rumo. Os erros pipocaram diante de meus olhos até aquele instante incapaz de ver e entender a sopinha de letras, na qual as organizações clandestinas se desfaziam, facilitando com suas brigas internas, o desmantelamento pelas forças militares da ditadura.
Para mim, a ignorância política era um incomodo constante. Eram tantas as facções do movimento de resistência, que nada significavam, eu comemorava a vitoria numa ação qualquer de todas elas. No entanto, ficava me sentindo um idiota sem conseguir traduzi-las. Ninguém falava de maneira clara, eu ficava com vergonha de perguntar e demonstrar completo desconhecimento. Era um adolescente como qualquer outro, inseguro e ansioso para me tornar adulto.
A motivação do fracionamento, geralmente continha a vaidade das lideranças que interpretavam os detalhes de uma questão ideológica, quando deveriam primeiro se ater ao objetivo principal para derrotar o inimigo em comum. Falarei desse grande equivoco, patrocinado pelos intelectuais burocráticos da esquerda, mais adiante.

TENTAÇÃO DO CAPITALISMO

O mundo capitalista é bem mais fácil, não requer o estudo detalhado e aplicado de uma teoria especifica. O dinheiro faz o papel de grande condutor dos seus seguidores. Não é necessário ter um propósito geral, basta manter o egoísmo e passar por cima da ética da vida. Não importa quantos são os pisoteados para isso.
A concorrência inicialmente é muito desleal.
Os países capitalistas apresentam o seu lado bem sucedido e escondem as suas misérias. Até quando elas aparecem, a indústria do cinema se encarrega de uma maquiagem poderosa. Não estou dizendo que a arte cinematográfica seja toda ela capitalista, e por isso mesmo ainda há esperança de uma alternativa de competição.
Fica muito fácil envolver um jovem na busca do sucesso pessoal.
Compreendo que o atrativo do Capitalismo é um conceito medieval. Uma necessidade orgânica e primária. Como animais numa floresta. O principio está na tentativa de sobreviver e depois de alimentado, o animal continua querendo mais. Ele se torna insaciável e nem imagina que outros podem ficar famintos. Ele prefere guardar, acumular e não se permite dividir, distribuir sua caça.
Assim é o capitalismo.
Um sistema sedutor e sem qualquer ideologia ética. Ele oferece a possibilidade da superioridade, da vaidade e da ganância. Nos dias de hoje, essa ideia é quase que total no seio da sociedade, muito embora os resultados negativos estejam explodindo por todos os lados. O mundo terá de encontrar uma nova ordem econômica e social. Está na hora do Socialismo?
No capitalismo, quando algo não acontece como esperamos, colocamos a culpa no elemento que produziu aquelas condições. Uma indústria ou comercio vai mal, o culpado não é o sistema, toda a responsabilidade cai sobre os ombros do capitalista. Nesse momento, os outros, são liberados da culpa.
Assim o mundo inteiro cria crises falsas, as negociações são intensificadas com argumentos escusos e a falência começa a se tornar eminente. Mesmo com todos esses indicativos da falha, o sistema capitalista é mantido de fora, ele se esconde. Ninguém pode cobrar uma coisa que não existe fisicamente.
O lado ruim desaparece diante da euforia capitalista. Quem sofre com tudo isso, não se dá conta da sua condição de fantoche. O povo continua sendo inocente, mas vai para a cadeia pelo crime de viver num mundo cruel que ainda não evoluiu o suficiente para aceitar viver em comunidade. Dividir os ganhos e as perdas, ou como dizem os capitalistas, os prejuízos e os lucros, a tristeza e a alegria.
Sem um objetivo Ideológico, não teremos como impedir a falência social, moral e econômica mundial e oferecer uma alternativa socialista. Dessa maneira, a lacuna pode ser preenchida pelo primeiro oportunista, que se apresentar como foi o caso depois da revolução espanhola.

DEBATE E COMBATE IDEOLÓGICO

Mesmo depois de tantos anos depois de surgir a teoria do Socialismo, muitos dos seus adeptos ainda são ignorantes e interpretam equivocadamente seus princípios. O erro não esse, ignorar faz parte do aprendizado e da possibilidade dessa ideia se expandir de maneira consistente. O erro é não admitir.
Ao se tornar uma filosofia aplicável no campo político, o Socialismo penetra numa região muito minada pelas ideias e conceitos arcaicos que contaminam todas as mentes dos intelectuais vaidosos. O socialismo é a porta aberta para uma breve aproximação da utopia do anarquismo, por isso mesmo, em alguns momentos a confusão pode ser estabelecida e provocar equívocos.
A revolução Russa de 1917 ocorreu num momento em que o mundo inteiro ainda engatinhava nos debates sobre o socialismo. Tudo era muito novo, as ideias ainda não estavam entendidas e desenvolvidas no campo político. A quantidade de pessoas analfabetas no mundo era imensa, poucos poderiam entender o que estava acontecendo de verdade naquele país, que saltava do feudalismo para um governo completamente desconhecido na sua forma e pensamento.
Nem os russos conseguiam imaginar a amplitude do que estavam promovendo. Já os capitalistas, por serem conceitualmente lentos, demoraram muito para identificar, processar e combater esse novo inimigo. Lamentavelmente, os socialistas perderam a grande oportunidade de transformar a Rússia no mais seguro dos exemplos políticos.
Depois de ler muito, só consegui entender a necessidade do Comunismo antes do Socialismo. Confesso que esse detalhe ficou oculto para mim por muitos anos. A necessidade de absorver a teoria Socialista me deixa quase cego e me mantinha na ignorância.
Para a estrutura política de um país ser completamente modificada, leva muito tempo e alguns passos devem ser observados. Antes de 1917, a Rússia era dominada por um regime retrogrado e muito violento. O todo poderoso rei da Rússia, não possuía limites para seu poder. O povo vivia na miséria e a corte inteira esbanjava riqueza. As ideias revolucionárias eram punidas com a morte sumária.
A Rússia foi reconstruída, ou melhor, construída depois da revolução. O povo precisava produzir para comer, estudar e ter um lugar para morar. De maneira brilhante, o Comunismo resolveu todos os problemas e a Rússia passou a ter uma estrutura digna de vida.
Faço questão de deixar claro, que a Rússia não teve tempo para aplicar o verdadeiro socialismo, tudo aconteceu ainda durante o Comunismo. Com todos os seus equívocos, foi um grande passo para atender as expectativas iniciais de transformação.
Diante do sucesso Comunista, o medo quase chega a levar pânico aos Capitalistas. Eles começaram o combate aos comunistas que ameaçavam abertamente invadirem o mundo com suas ideias.
Aproveitando os equívocos comunistas, a propaganda dos capitalistas se tornou sedutora e contaminou alguns russos que colaboraram para o fim desse regime em vez de tentar aperfeiçoa-lo. Com o fim do comunismo russo, começa a surgir o equivoco dos capitalistas que por sua vez, sem que essa fosse a intenção, acenderam os holofotes sobre seus defeitos e consequências.
O mundo inteiro consegue ver o capitalismo ruir lentamente.


2ª PARTE

MILITÂNCIA SINDICAL

Os sindicatos no Brasil possuem histórias de arrepiar ao longo da sua existência. O modelo não era muito diferente na sua forma do proposto no seio do movimento anarquista europeu e completamente deturpado durante a ditadura de Getúlio Vargas. Bom lembrar, que o modelo sindical nos Estados Unidos e em boa parte da Europa, em nada se parece com o nosso.
Para começar a ilustrar a força do movimento operário, citamos um dado histórico. A primeira greve no Brasil ocorreu no porto de Salvador em 1720. Nessa época, não havia qualquer organização Sindical, era um movimento espontâneo que reivindicava condições melhores de trabalho e uma remuneração mais justa. O porto de Salvador era o maior em toda a América. Um dos mais importantes do mundo.
A história da organização sindical no Brasil começa a ser realmente escrita no final do século XIX, com o declínio significativo do ciclo do café, a chegada dos emigrantes italianos, que fugiam das perseguições política em seu país. Eram quase todos anarquistas, embora boa parte deles, tão ignorantes como os brasileiros, mas estavam incendiados por uma questão ideológica que os atraia. Não havia como comparar esses emigrantes com o novo povo que surgia oriundo de uma escravidão perversa.
O Brasil, finalmente estava deixando de ser um país feudal, onde os senhores  poderosos eram os grandes produtores de café. As primeiras indústrias estavam sendo montadas e a ordem econômica vigente, sendo completamente transformada. São Paulo se torna o maior polo industrial do Brasil, e por isso mesmo foi a principal alavanca que impulsionou o desenvolvimento Sindical.
Falar da militância sindical é a parte mais difícil para qualquer historiador ou comentarista político. Nem todos conseguem entender os meandros desse movimento, que aos olhos de quem não participa dele parece ser espontâneo e natural, requer uma observação apurada e um conhecimento muito próximo para que não se cometa erros de interpretação.
Essa militância é ainda mais complicada. Ele possui aspectos inerentes ao que já citamos quando falamos da política estudantil e também absorve a política partidária. A militância fica dividida em duas categorias bem definidas. Uma delas é circunstância e só aparece nos movimentos específicos de seus interesses, a outra, participa de maneira ativa e quase sempre se envolve com um determinado partido político.
Para piorar o entendimento, ainda podemos subdividir essas duas em pelo menos mais outras duas. Assim teríamos que estudar quatro categorias, que muitas vezes se misturam, nem sempre é fácil identificar os seus integrantes. Só na pratica, sabemos ao certo com quem estamos lidando, ou pelo menos, podemos pensar que estamos sabendo. Os enganos são constantes.
Muitos companheiros de luta durante o dia, podem se tornar inimigos perigosos ao anoitecer. O inverso, também pode ser considerado.
A mutação do interesse se dá por canta da individualidade. Não se consegue uma militância ampla que seja envolvida pelas questões Ideológicas. O próprio movimento sindical, quase sempre se fortalece nas questões econômicas, muito mais do que nas políticas diante do conjunto da categoria. No entanto, em algumas situações, o movimento pode se tornar especificamente político e quase sempre provoca perdas em ambos os lados, ou seja, dos trabalhadores e dos patrões.

O PELEGUISMO

Quando Getúlio Vargas tomou de assalto o poder, instalando a sua ditadura, percebeu que o movimento sindical estava ficando muito forte e precisa ser o primeiro a ser contido. Era mais perigoso do que o congresso ou o poder judiciário, no entanto, o mais fácil de ser demolido. Eles estavam pulverizados e sem uma estrutura única de comando que se mostrasse capaz e satisfizesse a necessidades para se aventurar num confronto.
De maneira cruel e covarde, Getúlio mandou seus soldados invadirem sindicatos, prenderem as lideranças, torturar e se fosse necessário, matá-los sumariamente. Ele pretendia fazer uma faxina ideológica. Levar aos mais ousados, o medo de pensar e até mesmo de sonhar. Por tabela, intimidava o povo que seria facilmente manobrado com propagandas para difamar o sindicalismo que estava expurgando da sociedade.
A falta de informação da população era imensa. Acho bom lembrar que na época não havia celular, computador e quase ninguém possuía telefone em suas casas. Telefone era um luxo. Os meios de comunicações eram completamente controlados pelo governo e seus aliados, os interesseiros da classe dominante.
Ninguém seria capaz de negar a sua competência em implantar o exemplo fornecido pelo Fascismo italiano. Ele foi tão eficaz, que até hoje encontramos pessoas incautas que ainda veneram esse ditador. Muitos são intelectuais que se dizem de esquerda. Não podemos deixar de reconhecer, que para manter o poder, Getúlio foi obrigado a avançar em muitas questões durante o comando feroz que exercia diante de um governo muito corrupto.
Para calar a  ameaça dos sindicalista e não se mostrar tão malvado diante do povo, não fechou os sindicatos, substituiu a direção deles por pessoas completamente incompetentes e desprovidas de sensibilidade política. Em alguns casos, até manteve alguns diretores da antiga direção, aqueles que podiam ser facilmente controlados.
Os trabalhadores ficaram aterrorizados e durante algumas eleições sindicais, havia uma grande dificuldade para os cargos serem preenchidos. Mesmo que a empresas e entidades patronais, oferecessem vantagens para seus empregados mais confiáveis e dispostos a servir sem contestações ou riscos, os candidatos a “Pelego” se escondiam.
Para tornar os sindicatos mais atraentes aios novos pelegos, o governo de Getúlio criou o Imposto Sindical. Para esclarecer, os sindicatos movimentam muito dinheiro ao receberem sua parte desses impostos sem fazer força. Antes, eles eram sustentados pela contribuição espontânea dos trabalhadores filiados, como governo dificultava essa filiação, precisava compensar os cofres sindicais.
Aproveitando essa lacuna de militância, alguns trabalhadores com ideologias mais claras, se disfarçaram e conseguiram penetrar novamente no sistema. Era uma maneira lenta para retomar o poder dos sindicatos e muitas vezes se tornou uma armadilha. Quando eram identificados, o governo eliminava ou prendia esses trabalhadores. Não havia como protestar.
Foi assim que o sindicalismo se tornou medíocre ao longo de muitos anos. Depois que Jânio quadros renunciou e Jango assumiu o poder, parecia que dessa vez o Brasil seria recuperado das mãos dos ditadores e da direita cruel. Alguns sindicatos foram retomados, mas logo em seguida veio o golpe Militar de 1964. Houve outra caça as bruxas, fizeram uma verdadeira varredura covarde dos militantes sindicais de esquerda.

INÍCIO DA MILITÂNCIA

Em 1978, eu estava trabalhando como professor no Centro de Treinamento da Coelba. O nosso sindicato era dominado por um bando de pessoas subservientes que se aproveitavam financeiramente, além de dificultarem ao máximo qualquer possibilidade de articulação da esquerda. Eles filtravam as filiações novas e não demonstravam qualquer interesse no crescimento de seus associados.
Como eu já demonstrava ter muita facilidade para avançar com uma liderança promissora, fui procurado primeiro pelo presidente do sindicato que me sondou de maneira muito pouco inteligente. Ele era uma pessoa que exalava toda a sua subserviência em relação aos desejos da diretoria da Coelba. Um verdadeiro “Puxa Saco”.
Fiquei muito desconfiado daquela conversa. Ele parecia saber muito de mim embora eu não o conhecesse nem ele a mim. Imediatamente fiquei na defensiva, apenas o deixei falar e procurei evitar demonstrar o nojo que sentia. Respondia as suas perguntas de maneira cuidadosa. Confesso que foi difícil conter uma gargalhada quando ele me perguntou o que eu achava do sindicato.
Percebendo com quem estava lidando, dei uma resposta formal e apenas comentei a necessidade da entidade sem fazer criticas ou elogios falsos. Ele sorriu, havia sido enganado por mim. Abriu a sua pasta e pegou uma folha de papel, era a ficha de filiação. Ficou clara a sua intenção naquela visita ao Centro de Treinamento, ele viera tentar me conquistar para sua quadrilha.
Isso ficou mais definido dois dias depois. Ele me ligou ansioso para receber a ficha preenchida. Eu ainda muito inocente, não entendia o motivo daquela tentativa dele em me oferecer a oportunidade de ser um diretor sindical ao lado da direita.
Eu estava muito ocupado com um curso para engenheiros. Dois deles haviam assinado contrato no mesmo dia que eu fui contratado. Os Conhecia apenas desse momento. Eles haviam visto o Pelego conversando comigo e de maneira casual. Quando indaguei se eles já haviam se sindicalizado, me informaram um pouco do que estava acontecendo.
Eles estavam desconfiados tanto quanto eu. Mesmo assim, as informações foram muito uteis e me possibilitou ter uma visão mais ampla de onde estaria me metendo.
As eleições do sindicato seriam realizadas no próximo ano, e uma oposição muito forte estava se articulando em Paulo Afonso, promovida pelos trabalhadores da CHESF. Eles eram a maioria na categoria, enquanto a Coelba possuía apenas pouco mais de dois mil trabalhadores, a Chesf contava com quase cinco mil, só em Paulo Afonso eram quase quatro mil.
Preenchi a minha ficha e fui pessoalmente entregar no sindicato nas mãos do presidente fantoche. Ele nunca ficou sabendo, mas foi o responsável direto pela decisão em me tornar militante ativo e mais tarde intensificar essa participação até então tímida. Se não fosse a minha convicção ideológica, a direita teria me seduzido, foram os primeiros a me identificar.
Colaborei muito na sindicalização de muitos trabalhadores. Fazia um discurso coerente e aproveitava a minha liderança que nem eu mesmo sabia que podia ser assim. Na eleição em 1980, o Sindicato dos eletricitários fez história na Bahia e massacramos o pelego nas urnas. Ainda não aceitei fazer parte da direção, mas me mantive sempre muito atuante até a eleição seguinte, quando me tornei diretor do Sinergia.
Foi com a minha participação efetiva no sindicato, que consegui responder a maioria das minhas duvidas, que ainda eu persistia em ser ignorante, desde a época de minha adolescência.

REUNIÕES DE BASE

Durante o período de remontagem da estrutura política do Sindicato, ainda era apenas um militante ocasional embora quase sempre muito presente. Estava ficando encantado com aquele novo modelo sindical, onde as decisões mais importantes eram discutidas e encaminhadas nas reuniões semanais com os militantes.
Era claro, que eu sabia que estávamos sendo influenciados pelo maior modelo que surgira recentemente no Brasil. O modelo era baseado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista. Foram essas reuniões que me proporcionaram as primeiras discussões produtivas e ideológicas.
Nesse ano de 1980, o partido dos Trabalhadores (PT) acabava de ser fundado. Seguia o mesmo molde sindical e por isso, despertava tanto interesse e distribuía a decisão dos encaminhamentos políticos aos seus núcleos sindicais que logo se multiplicaram. Os partidos de esquerda, que sobreviveram ao regime militar, estavam perdendo espaço entre os novos sindicalistas que também se encantavam com o PT.
Era um momento muito rico em informações e conhecimento. Ali, nas reuniões de base, surgiram muitas lideranças novas e a questão ideológica se firmava. Eu percebia que era um avanço muito rápido no seio da categoria dos eletricitários. Mesmo assim, havia um incomodo que só consegui entender mais tarde.
O que era decido nas reuniões de Salvador, não era levada em conta, quem decidia de verdade era a força quantitativa de Paulo Afonso. Para ficar mais claro, em Salvador, entre os trabalhadores da Coelba, havia uma qualidade de militância bem diferente do que se podia observar na Chesf em Paulo Afonso. Não menosprezando essa força, mas criticando as lideranças, deixarei para comentar esse equivoco mais adiante.
Durante o governo de Getúlio Vargas, os sindicatos assumiram o papel assistencialista. Para justificar a fortuna que recebiam com o pagamento obrigatório do Imposto Sindical, eles ofereciam médicos, dentistas e advogados. Nos sindicatos maiores, que envolviam pessoas de todo o estado, alojamentos para quem chegava necessitando de algum tratamento médico ou resolver problemas diversos.
Essa não era uma atividade sindical que eu aceitava, o novo movimento sindical teria de ter coragem e colocar ponto final a esse absurdo. O dinheiro nos cofres do sindicato, teria de objetivar fundos para o desenvolvimento político e proporcionar conquistas salariais e sociais. Todos nós concordávamos em tese, que o único benefício justificável, era o atendimento jurídico, que precisava passar por uma reformulação.
Nas reuniões de base em Salvador, esse assunto era facilmente defendido, no entanto, a diretoria do Sindicato, parecia temer muito discutir o assistencialismo em Paulo Afonso. Esse assunto só foi enfrentado e resolvido em parte, no segundo mandato da diretoria, quando nós da Coelba, passamos a ter um numero significativo de diretores. Até então, a maioria estava nas mãos da Chesf de Paulo Afonso.

LEVANTANDO AS MÃOS OU CRACHÁ

Como a grande massa não participa dos meandros políticos ou possui uma identidade ideológica, eles preferem o pacote pronto. Depositam toda a confiança nos discursos de suas lideranças. Algumas dessas lideranças se aproveitam disso já com pensamentos num futuro bem próximo, onde o proveito de sua força pessoal será cobrado dessa massa para benefício próprio ou por pura vaidade.
Essa experiência para mim foi imensa, minha militância me levou a conhecer esse mesmo procedimento sendo repetido em outros sindicatos. As pessoas que influenciavam faziam discursos inflamados, mas no fim, a votação parecia ser um jogo com cartas marcadas, a maioria votava com o que o seu líder concordava e votava levantando a mão ou o crachá, posicionado em um local onde todos podiam lhe ver.
Essa prática é uma herança difícil de ser aniquilada. Oriunda dos hábitos de postura dos “coronéis”, caciques políticos, as decisões parecem seguir o pensamento oferecido e os que acompanham, por preguiça, compromisso pessoal ou desconhecimento ideológico, nem sempre sabem justificar a razão da proposta que elegeram.
A cegueira política pode ter uma consequência muito danosa. As lideranças se esforçam para aprovar suas teses e propostas e se esquecem de ajudar no desenvolvimento Ideológico. Numa eleição constitucional e de caráter abrangente, ou seja, eleições para vereadores, deputados, prefeitos, governador e assim por diante, muitos desse liderados cegos votam nos piores candidatos.
As razões são inúmeras, mas a base sempre a mesma. Falta de consciência Ideológica.
No Brasil é muito frequente alguém votar em um determinado candidato para atingir aspirações pessoais. Pode ser um emprego, dinheiro para construir alguma coisa ou motivações que muitas vezes duvidamos ser possível.
O resultado mais funesto vem sendo percebido depois que o Brasil chegou ao patamar econômico mais confortável, onde a inflação é muito pequena. Não existem mais revindicações de recuperação salarial como no passado. Os ganhos são muito pequenos para que os trabalhadores se arrisquem. Agora, seria o momento das lutas políticas para o desenvolvimento da credibilidade e do aprimoramento do sistema de governo.
O que se pode ver a olho nu, é o movimento sindical perdendo a sua força diante da configuração de poder menos conservador e de apelo convincente. Mesmo assim, a direita ganha fôlego depois de ter aprendido o caminho das pedras e se fantasiar de oposição, exibindo uma máscara de honestidade que todos sabemos ser pura enganação. Ninguém se ilude, alguns querem se iludir ou fingir que se iludem.

EXPERIÊNCIA 01

Essa minha experiência começou pouco depois de tomar posse, como diretor liberado do meu trabalho na Coelba para permanecer atuando exclusivamente no sindicato. Ficando encarregado do controle de pessoal e da manutenção patrimonial. Numa diretoria, todos precisam ter uma ocupação administrativa além da política.
Estávamos gastando muito dinheiro e tempo para a produção do nosso jornal informativo chamado de “ALARME”. O tempo para atingir toda a categoria era vital para o sucesso de nossas campanhas. O estado da Bahia é grande e havia trabalhadores sedentos de informação em todos os locais.
Como dependíamos de favores ou pagávamos caro com grandes custos para impressão do boletim, apresentei uma proposta para solucionar nossas dificuldades numa das reuniões da diretoria executiva onde a representação da Coelba era superior. Teríamos de comprar uma maquina impressora OFFSET. Sabia que provavelmente teria uma resistência contraria por parte dos diretores provenientes das forças de Paulo Afonso.
O presidente, cheio de conversa fiada, alegou que o momento não seria adequado para uma compra dessa natureza. A sub-sede de Paulo Afonso também teria de ter uma impressora. A sede de Salvador não depende da decisão de Paulo Afonso! – Protestei defendendo a minha proposta. – Os boletins são feitos aqui em Salvador.
- A ideia me parece boa! – Disse um diretor que era meu aliado muito embora fosse um Brizolista doente. – Concordo que as necessidades em Salvador são diferentes da de Paulo Afonso.
Para minha surpresa, o diretor tesoureiro, um aliado histórico do presidente tomou a palavra e fez uma defesa brilhante mostrando a economia que faríamos comprando a maquina, alem dos benefícios políticos para outros sindicatos com menos poder de fogo. Acuado, o presidente disse que levaria aquela decisão para a reunião Plena da diretoria. Ele sabia que a maioria defenderia contra a proposta.
Para mim, estava muito clara a intenção do presidente em evitar que a força política mais preparada que estava vindo da Coelba, conseguisse vencer e assim diminuir a sua força. Novamente o tesoureiro foi crucial.
- De qualquer maneira, vamos eleger dois diretores para pesquisarem os preços de impressoras? – ele fez a proposta de maneira firme. – Financeiramente será fácil defender essa proposta na reunião da diretoria plena.
Como era de se esperar, eu e outro diretor ficamos encarregados da missão. No inicio, esse diretor que faria dupla comigo, não se mostrava convencido da necessidade da compra, mas aos poucos, foi se modificando nesse interesse. Provavelmente aconselhado pelo seu partido, o PCdoB, que via a possibilidade de ter mais um local para se infiltrar, ou então, percebeu que de nada adiantava retardar o processo. Eu já coletara sozinho o material necessário.
Compramos a impressora, contratamos um gráfico e tomamos um pedaço do alojamento assistencialista para montar nossa gráfica. Pouco tempo depois, colhemos os frutos preciosos oriundos dessa gráfica. Estourou a primeira greve da Coelba que durou trinta dias e a informação rápida e precisa, foi um dos elementos de sustentação do movimento.
Minha experiência profissional como jornalista, foi outra ajuda muito importante para fazer os trabalhadores da Coelba e até mesmo os de Paulo Afonso, avançarem no conteúdo ideológico. Aproveitei todos os espaços disponíveis nos boletins para escrever sobre a necessidade de nossa participação política cada vez mais aguda na mudança do país. Era muito pouco, mas eu tentava.
Aquela maquina se transformou num caminho para a divulgação ideológica. Talvez por isso eu seja grato ao momento tão oportuno ao ter tudo essa ideia, o ganho que tive foi o de ampliar o poder da informação. Para mim foi muito produtivo.

EXPERIÊNCIA 02

Até hoje muita gente me pergunta o que eu ganhei com minha militância sindical já que houve uma perda profissional em vários momentos. Eu nunca mais fui promovido e assim interrompi uma progressão natural pela competência que demonstrava tecnicamente e era reconhecida.
Reconheço que muitos dos meus parceiros sindicais não trilharam o mesmo caminho e se aproveitaram como podiam da situação. Não os acuso de oportunistas, apenas não era o meu objetivo. Minha grande recompensa era avançar ideologicamente e isso eu consegui.
Aprendi muitas coisas novas e ensinei outras tantas. Até hoje, quando chego na Coelba, sou tratado com carinho e respeito. Isso para mim foi um presente, alguns dos companheiros de trabalho que nem entendiam a importância do voto, agora são pessoas com opinião coerente e ideológica.
No entanto, a dificuldade para lidar com algumas pessoas, foi muito grande, do inicio ao final da greve de 30 dias na Coelba. Eu praticamente morei no sindicato durante o mês inteiro. Pouco ante de começar a assembleia que aceitou a proposta negociada com a direção da Coelba acabou, eu estava exausto. Um colega de setor que havia furado a greve todos os dias, só aparecia rapidamente no final do dia ou quando estava de folga, me puxou pelo braço.
- Vamos ter de continuar com a greve! – ele disse revoltado sacudindo o boletim com a proposta negociada. – Se precisar, ficamos de greve o ano inteiro até eles pagarem tudo. Você vai ser contra aceitarmos essa proposta?
Eu havia voltado da reunião com a diretoria da Coelba e teria de me reunir com os outros diretores que não foram para a mesa de negociação. Nem dei resposta para o colega de trabalho, apenas sacudi a cabeça de um lado para o outro e me afastei antes de ser grosseiro como era meu desejo.
Traçamos uma estratégia para evitar que aquela assembleia se tornasse muito longa já que estávamos todos no limite de nossa resistência. Sabíamos que se a greve durasse mais alguns dias, os resultados seriam desastrosos. Os diretores que trabalhavam na Coelba fariam a defesa da proposta, seriam apenas quatro discursos além do presidente do sindicato.
Como eu era o diretor com maior influencia junto aos eletricistas e técnicos, maioria na assembleia, caberia a mim, fechar a defesa da proposta. Desde o primeiro dia da greve, lutamos também internamente contra aqueles, que queriam destruir todo o movimento com a intenção de ficarem bem com a empresa e ao mesmo tempo com a categoria. Aproveitando para nos colocar em situações difíceis.
Fiz um discurso honesto e muito eloquente. Fui aplaudido a cada respiração para tomar fôlego e no fim indaguei quem estava comigo e aceitava a proposta negociada. As mãos para o alto foram minha recompensa, muitos poucos pareciam insatisfeitos. Realmente havia sido uma grande vitória. A greve acabou. Ela precisava acabar.

Reflexão
Durante a construção dessa greve, muitas vezes eu fiquei desconfiado da postura do presidente do Sindicato. Até aquele momento, eu fazia algumas ressalvas ao seu desempenho, mas não o acusaria de nada. Após o movimento, eu não conseguia mais confiar nele, nem para me dizer se estaria chovendo ou fazendo sol.
Desde o primeiro momento, ele tentou bloquear a explosão daquela greve. No inicio suspeitei que era para evitar que os trabalhadores da Coelba se fortalecessem politicamente. No entanto, ao final da greve, minha suspeita era outra, ele havia feito um acordo com a diretoria da empresa e se deu mal.
Dois anos depois, as suspeitas foram confirmadas. Aquela liderança elogiada no Brasil inteiro, havia se vendido para conquistar ganhos pessoais. Ele se formou em Direito e logo assumiu o Departamento Jurídico da Chesf em Recife. Passou a ter um discurso de patrão.

FUNDANDO A CUT

Participar da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi um privilégio. O ano de 1983 se mostrou muito especial para minha formação política e ideológica. Comecei a entender o que acontecia no Partido dos trabalhadores. As mesmas correntes estavam representadas no congresso de fundação da CUT assim como os outros partidos de esquerda, ou próximos.
Com essas informações, ainda me sentia inseguro para decidir sobre minha filiação partidária, mas ela durou muito pouco. Encontrei uma corrente que satisfazia meus interesses ideológicos e funcionava de maneira independente. Mas tarde, ela foi denominada de ARTICULAÇÃO.
Representantes obscuros da direita se fizeram presente apenas para coletar informações. Mesmo assim, terminaram por ajudar a consolidar o projeto com discursos que deixavam claro  o medo que o novo sindicalismo estava impondo aos “Pelegos”. Para variar, eles tentaram reagir, mas eram lentos. Não estavam acostumados com a democracia e os debates ideológicos, nem entendiam o que estava acontecendo.
Mais tarde, uma boa parte dos sindicalistas modernos se surpreendeu. Todos nós ficamos indignados com a aliança de Brizola com a direita, ou seja, com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, para que uma central de oposição ao projeto da CUT fosse criada e assim tentar retomar o poder, o controle dos sindicatos. Enganou-se.
Ele tentou ressuscitar a antiga Central Geral dos Trabalhadores do período anterior a ditadura Militar. Claro que a denominou de maneira diferente, era a famosa e corrupta “Força Sindical”. No entanto, a história havia transformado o mundo Sindical numa outra coisa bem diferente. Não havia mais espaços para pensamentos retrógrados e covardes, que de maneira muito conveniente e oportuna, que de acordo com os interesses políticos, pendia para a esquerda ou direita.
Os diretores dos sindicatos de esquerda, não encontraram grandes dificuldades para convencer os seus associados da necessidade da CUT. Rapidamente, a maioria já se filiava e passava a integrar de vez o projeto de transformação promovido pelo novo sindicalismo ideológico e político.
A organização a nível nacional era uma necessidade. Além da colaboração estratégica, a CUT seria o braço político do movimento sindical atuando em conjunto com os partidos.
Graças a essa nova concepção, muitos sindicatos que permaneciam dominados pelos “Pelegos”, foram sendo conquistados e aqueles velhos colaboradores da Ditadura Militar, sendo consumidos pelo ostracismo e pela falta de liderança autêntica.

POLÍTICA PARTIDÁRIA

Quando assistimos aos noticiários vinculados na grande imprensa, ficamos indignados com a falta de parcialidade exibida diariamente. Eles não conseguem esconder o ódio que nutrem pela esquerda.
Isso foi visto durante o processo das “Diretas Já”, na mobilização do “Fora Collor” e no massacre que eles chamaram de “Julgamento do Mensalão”, entre outros que poderíamos enumerar com facilidade. O que importa, é que eles nos dois primeiros exemplos fizeram de tudo para tentar ocultar as noticias que eram contrárias aos seus interesses. No “Julgamento do Mensalão”, fizeram o inverso, abriram espaços para caluniadores e boatos de maneira vergonhosa. Até um espirro passa a ser notícia.
Essa atitude da imprensa não é uma novidade. As noticias do que acontece nos Estados Unidos, se tornam mais importantes do que qualquer coisa maravilhosa produzida pela esquerda no Brasil. Eles não perdem tempo em noticiar qualquer erro, por menor que seja, quando o assunto serve para criar uma imagem distorcida da esquerda.
Diante da propaganda negativa e intensa dos meios de comunicação, até hoje a população em geral ainda nutre o receio da participação na militância partidária. Fica estabelecido o equivoco de “manda que pode e obedece quem tem juízo”. Assim, a elite permanece controlando, ou tentando controlar o país inteiro. Todos nós podemos mandar. No entanto, só devemos obedecer ao que parece ser algo justo e coerente.
Sem conhecimento do que ocorre no mundo político, ninguém consegue entender as suas minúcias e por isso, fica vulnerável. É muito comum conversar com uma pessoa que protesta algo do governo e ela não sabe quem é o responsável por aquele problema.
O povo em geral não identifica a responsabilidade dos poderes constituídos. O que é de responsabilidade dos Deputados Federais, dos estaduais e dos vereadores. Confundem um presidente do país com um ditador da idade média, acham que ele pode tudo, é ele quem tudo decide.
Até o limite entre um presidente, um governador ou um prefeito, não fica claro. Não entendem o trabalho do congresso, criticam todos como se estivessem diante de um time de futebol que joga mal ou ganha o jogo. Durante uma campanha eleitoral, escutei um comentário que me fez ficar muito preocupado.
O cidadão, que não era nenhum analfabeto e sim um engenheiro, estava revoltado com o deputado federal, em quem votara, porque a sua rua ainda não havia sido asfaltada. A falta de conhecimento, quase sempre leva a erros graves na hora de votar.
A falta de conhecimento não é privilegio de ninguém, ela está instalada em todas as camadas sociais da população. A direita faz questão que assim seja e tira proveito para passar como inocentes, seus seguidores corruptos e convenientes, pelo crivo da população durante as eleições.
O eleitor é imediatista. Não consegue enxergar o que seu voto realmente significa no processo de governabilidade. O próprio processo eleitoral ajuda nesse disparate ocorrido com frequência em todo o país. Ao manter o voto na pessoa, favorece ao mentiroso que promete até o que não está na esfera de sua candidatura. O correto seria que votássemos  no partido, numa proposta que mais tarde seremos capazes de cobrar.

CONSEQUÊNCIAS DO VOTO INDIVIDUAL

No voto que hoje somos obrigados a depositar numa urna, muitas vezes é um pedaço da armadilha que estamos montando. Para esclarecer, tomaremos como primeiro exemplo a eleição presidencial.
Em primeiro lugar, fica difícil perceber a veracidade de muitas das propostas defendidas pelos candidatos, que quase sempre é apresentada com possibilidades de execução como tudo dependesse apenas da decisão dele. O eleitor Esquece que tudo que é proposto dependerá da aprovação do congresso. A Câmara dos Deputados e do Senado.
As consequências boas ou ruins dessa eleição sempre serão de acordo com a decisão do eleitor, que por não entender o processo político, não interpreta a situação pelo ângulo correto. Ele elege o presidente de uma força ideológica, com uma determinada proposta, e um deputado com propostas inversas.
 Esse é um equivoco que não pode ser benéfico para o sucesso da governabilidade. Ou seja, dá o poder com uma mão e retira com outra.
Essa situação ambígua me faz lembrar imediatamente de um amigo que era estudante de Direito quando tudo aconteceu. Ele votou num determinado candidato a prefeito na cidade do interior onde a sua família morava e escolheu um vereador do partido de oposição. A sua justificativa para essa atitude é a cara da ignorância política.
Ele me explicou isso com a maior naturalidade.
“Eu estou com a esquerda, mas votei nesse vereador por que meu pai me pediu o voto para um amigo, nem sei quem é esse amigo dele!”
Com esse comportamento aparentemente inocente, fica demonstrado um dos exemplos do voto brasileiro.
Essa conversa aconteceu de maneira muito informal, numa mesa de bar. Outro amigo, muito espirituoso, disse logo em tom de pilheria, que seria candidato a presidente e já havia até pensado no slogan da campanha.
“Não quero seu voto pela metade. Vote em mim e nos deputados do meu partido ou escolha de vez o outro lado”.
Era apenas conversa de amigos. No entanto, o slogan estava completamente correto. O voto dividido é inconsequente e pode transformar uma cidade, um estado ou um país, numa maquina que não se movimenta por falta de combustível. Isso só é possível por causa do tipo de processo eleitoral onde a prioridade é o individuo, a questão ideológica do projeto é totalmente deixada de lado.
Outro perigo do voto individual é que o eleitor não tem como cobrar qualquer coisa de quem elegeu. Como fazer contato com um Deputado Federal que ele quase nunca consegue encontrar? Como saber se ele não negociou aquela proposta para que tomasse um caminho inverso?
O mais correto seria ter uma proposta do partido, votar nela e depois acompanhar a sua execução, podendo perceber a sua aplicação na prática. Agora volto a indagar aos mais atenciosos se eles ainda se lembram do que foi prometido durante uma campanha eleitoral. Quase ninguém consegue nem recordar ao certo em quem votou.
Não podemos criticar o eleitor, ele fica vulnerável o tempo inteiro. Ele não possui condições lógicas de acompanhar o desempenho real de quem elegeu. Os meandros legislativos são muitos obscuros para quem não fica próximo ao poder.
De nada adianta votar em um candidato que faz parte de um grupo da elite dominante pensando que ele vai atender aos interesses de outras classes. Em campanha ele promete tudo, mas quando se elege, continua defendendo os iguais. Ele pode até encaminhar o projeto, no entanto, negocia logo para evitar que seja aprovado. Fica de bem com todos.
Se ficarmos atentos, podemos notar que no discurso deles, as promessas são muitas vezes completamente fora de uma realidade onde ele vai atuar. Falam muito e não se comprometem de verdade com nada.
A completa falta de ideologia dos partidos possibilita o sucesso nas urnas de grande numero de oportunistas que são eleitos. Existe até a chamada “sigla de aluguel” para quem tem dinheiro ou um bom patrocínio, se eleger sem se preocupar com a ética. São esses partidos, que abrigam os principais candidatos oportunistas, que lutam contra o “Voto Partidário”. Eles não sobreviveriam.

Caso do voto “TIRO NO PÉ”

Não vou identificar o fato cronologicamente, pois ele serve de exemplo até hoje. Esse caso ocorreu durante o período de uma campanha eleitoral onde seriam eleitos, Deputados, Senadores, Governadores e Presidente.

Eu estava trabalhando numa determinada região do recôncavo BA Bahia a serviço da Coelba quando me deparei com o caso que vou expor.
Ao chegar numa pequena propriedade com produção familiar, deu para notar logo qual seria o Deputado Federal em que eles votariam. A foto sorridente do candidato estava enfeitando, num cartaz de propaganda eleitoral, a parede da casa ao lado da porta.
Era inevitável para mim, a observação imediata do contraste daquela situação. A propriedade era pobre. Uma plantação de mandioca e uma casa de farinha. O candidato do cartaz era um rico pecuarista da região, que já fora eleito duas vezes para a prefeitura de uma cidade próxima e até respondia processo na justiça por suspeita de ter mandado assassinar pequenos agricultores, além de ter cometido improbidades públicas com desvios de verbas.
Antes de sair daquela propriedade, o eletricista que trabalhava comigo resolveu pedir água gelada para a dona da casa que nos recebeu vestida com uma camiseta de propaganda do tal candidato a Deputado Federal. Ela se desmanchou em atenção e por ser muito simpática, me arrisquei numa indagação simples.
- A senhora acha esse candidato confiável?
- Nenhum deles presta! – ela respondeu sorrindo. - Todos querem ficar ricos e esquecem-se do povo. Esse pelo menos já tem muito dinheiro. Talvez roube menos!
- Esse ai..., faz parte da bancada mais radical dos “Ruralistas”! – Eu disse com preocupação.
- Não sei o que é isso! – Ela se sacudiu.
- Eles defendem exatamente o contrário daquilo que vocês precisam. São enganadores, demagogos! – Tentei explicar.
- Todos prometem a mesma coisa e ninguém faz nada, esse ai, pelo menos veio aqui na cidade e apertou a mão de todo mundo. – Ela fechou a garrafa quase vazia. - Querem mais água?
Vendo que não havia tempo para uma conversa mais detalhada e que possivelmente nada mudaria, fui embora.

O caso descrito numa propriedade rural, também é muito comum de ser encontrada nos centros urbanos. A falta de uma definição ideológica dos partidos, da honestidade nas propostas e principalmente na impossibilidade do eleitor ter a possibilidade da cobrança futura, transforma qualquer candidato o inserido num único bloco de corruptos e mentirosos.
Os eleitores votam muitas vezes no seu carrasco sem ao menos saber que ele dará a ordem final para a sua decapitação e fará com prazer o corte de sua cabeça. As propostas de campanha são muito semelhantes. Todos fazem discursos que se confundem. Fica muito difícil uma pessoa sem as informações ideológicas necessárias, acompanhar o que acontece em Brasília ou em qualquer capital e até no município.
Mesmo sendo um militante partidário, nem sempre identificamos ao nosso lado um traidor e alguns até ajudamos a eleger. Assim, seria injusto e muito complicado tentar criticar alguém pelo seu método na escolha de um candidato. O voto na pessoa resulta no personalismo. Isso só terá fim, ou pelo menos um freio, com o voto na proposta, o voto no Partido.

MILITÂNCIA PARTIDÁRIA

A militância Partidária é muito mais importante do que podemos imaginar. Ela se constitui nas pernas, braços e cérebro de um Partido Ideológico. Sem ela, não existe motivo para esse partido continuar vivo.
Numa configuração de poder democrático, o conjunto de militantes se torna muito mais importante do que aqueles que foram eleitos para cargos num governo. No entanto, a nossa sociedade ainda permanece contaminada pela monarquia, e louva os que aprecem como representantes no poder.
Para entender melhor, vamos tomar o exemplo de um deputado. Ao ser eleito, ele não deveria falar oficialmente por conta própria e sim, ser o mensageiro do partido. O mensageiro do que foi discutido e aprovado pela militância. Para respeitar uma democracia partidária, devemos defender a proposta vencedora, mesmo que estejamos discordando dela.
Sempre soube, desde pequeno quando os partidos eram bem diferentes do de hoje, que a Direita não cultivava uma militância. As decisões eram tomadas pelos caciques políticos que seguiam os caminhos mais convenientes para eles. Os que discordassem, teriam de se aproximar para continuar lambendo o poder.
No entanto, eu acreditava que na Esquerda todas as decisões seriam democráticas. Estava muito enganado. Só consegui identificar esse desvio ideológico quando finalmente comecei a minha militância política partidária. As decisões chegavam prontas e a possibilidade de uma interferência da militância era insignificante. Eles apenas obedeciam a um comando que se assemelhava ao da disciplina militar.
Talvez pó esse motivo, eu tenha relutando tanto em me filiar a um dos partidos de esquerda tradicionais. No entanto, com a criação do partido dos Trabalhadores, finalmente encontrei o que acreditava ser correto num partido. Ele herdara do sindicalismo essa democracia interna muito coerente e intrínseca ao socialismo.

GANHANDO FÔLEGO

Disputar eleições contra os partidos milionários da Direita, nos parecia ser um obstáculo que seria quase impossível de ser superado. No entanto, a motivação ideológica não permitia a um militante ter esse tipo de avaliação. Estávamos certos e pouco a pouco ganhamos espaço, chegamos ao poder.
Será que chegamos mesmo ao poder?
Essa será uma conversa para mais adiante. Precisamos ter outras interpretações do sistema no conceito do momento político antes de começar uma reflexão. Podemos correr o risco de exagerar num processo de sentimento crítico e esquecermos a razão.
Vamos retomar o fio da conversa?
Pois bem! A militância num partido que respeita a democracia interna é algo surpreendente, que se torna muito difícil de ser descrito. O militante sente que participa e influi nas decisões. O comprometimento e enorme e o esforço para a vitória ideológica é compensado todos os dias com o convencimento de que o socialismo é o melhor caminho para corrigir os defeitos da humanidade.
No inicio da caminhada do PT, encontramos abismos imensos, o preconceito contra o trabalhador na política era o que mais agredia. Até no seio familiar, muitas vezes os comentários eram imaturos e cheios de hostilidade. Como tudo quer apresentado como sendo um novo caminho, muitas vezes precisa de respostas mais radicais. Éramos radicais no princípio, depois iniciamos outro processo mais educativo.
Numa roda de amigos fora do circulo partidário, quase sempre estávamos em minoria. Lutávamos contra a ignorância política e os preconceitos estabelecidos ao longo de centenas de anos. Teríamos de entender que derrubar um conceito não pode acontecer de uma hora para outra. É preciso edificar a fortaleza e depois combater quando as armas estiverem prontas e afiadas.
A persistência e a consciência política do militante são as armas mais eficazes para uma vitória no combate ideológico.

ESFORÇO ROMÂNTICO

Aos poucos, o PT estabelece seu território político. Promove uma “Guerrilha Institucional” invadindo o quartel general da Direita Conservadora Brasileira. O trabalhador ocupa o congresso e mais tarde será ainda mais ousado, trazendo para si a faixa presidencial, que colocará sobre o peito com a responsabilidade de mudar o caminho na condução do país.
Ao lembrarmos-nos das dificuldades iniciais, hoje respiramos com dignidade e orgulho todo o esforço produzido pela militância. Durante as primeiras eleições, apenas São Paulo obteve um pequeno numero de cadeiras no âmbito estadual. As propagandas eleitorais eram ridículas.
Os candidatos apareciam na TV como um fichário de procurados da justiça. Eram apenas fotos horríveis e um locutor dizia o nome e o numero. Mesmo sabendo que não havia dinheiro suficiente para competir com a Direita, tentamos superar essa desvantagem com um trabalho árduo e diretamente localizado nas bases do nosso principal e empolgado eleitorado.
Os partidos antigos de esquerda, ainda estavam misturados no interior do PMDB. Era muito difícil contar com uma aliança e por isso seguíamos sozinhos. A própria esquerda tradicional estava se mostrando reticente quanto ao sucesso do PT e já se preparavam para retomar suas siglas cassadas, assim que fosse conveniente. Mesmo depois de ter sido conquistada a liberdade partidária.
Faço questão de lembrar, que alguns deputados eleitos pelo PCB e pelo PCdoB, não retornaram, permaneceram no PMDB e mais tarde, saltaram diretamente para os braços da Direita.
O PT era novo, surgia do movimento sindical que estava renovado. As candidaturas eram apenas para marcar posição. Os que se ofereciam para esse papel no grande teatro político eram os nossos heróis. Teriam de enfrentar todos os tipos de preconceitos por onde passavam. Eram chamados de loucos e coisas bem piores.
Como o Partido dos Trabalhadores não possuía financiamentos dos poderosos, e por sua vez não pretendia ficar a mercê deles, quem financiava tudo eram os seus militantes. Muitas vezes um militante deixava de comprar um sapato para contribuir. Quem ainda não viveu a experiência Ideológica, não consegue entender o prazer de um militante. Ele não considera sacrifício, acredita que o mundo pode ser melhor com a conquista do Socialismo.
A possibilidade da sua vitoria Ideológica, tem muito do que acontece quando plantamos uma arvore. Ela será frondosa, oferecerá abrigo e sombra. Seus frutos alimentam os pássaros e todos aqueles que dela se aproximarem famintos. No entanto, essa arvore será para o futuro, seus filhos, netos ou talvez bem mais adiante. Não há uma expectativa imediata. No intimo sabe, ele mesmo não desfrutará dos benefícios dessa arvore que plantou e cuidou.

CAMPANHA ELEITORAL

Quero ressalvar, que o Partido dos Trabalhadores foi fundado ainda no auge da Ditadura Militar. As primeiras campanhas eleitorais não permitiam o conforto do livre pensamento ideológico. Ainda havia o grande risco de prisões e torturas.
Mesmo com o cenário adverso, não havia recuo. Não éramos intimidados pelas ameaças e muitas vezes ocorrências reais para impedir o avanço do PT. Era um momento delicado e que solicitava coragem para seguir na linha de frente. Mesmo os que permaneciam na retaguarda, corriam riscos.
As reuniões do partido ainda não eram muito organizadas. Não havia muita gente disposta a discutir as estratégias de uma campanha que por certo não elegeria qualquer candidato. Mesmo sabendo disso, nós alimentávamos a esperança de uma surpresa agradável na contagem dos votos.
O sofrimento era grande ao ver que as urnas continuavam sendo dos poderosos da Direita, que as pessoas ainda não haviam percebido a diferença de nossa proposta. Mesmo com essa desvantagem, fazíamos campanhas com toda alma e com toda a disposição de quem vai para uma guerra armado de pedras na mão enquanto o inimigo ostenta seus canhões.
Demoramos algum tempo até perceber o que estava errado. O ser humano é imediatista, não quer algo no futuro, que um resultado rápido e sempre pensar que pode ganhar um premio com a sua subserviência. Nosso discurso era voltado para um conjunto de ideias, não havia promessas, não havia lucro pessoal para o eleitor.
Gastávamos o pouco dinheiro que estava disponível na impressão de panfletos. Os recursos eram provenientes dos chaveiros, broches, adesivos e camisetas que vendíamos. A Direita, fazia uma farta distribuição de brindes. Nossa militância aproveita as horas de folga para trabalhar na campanha, a Direita, contratava uma militância remunerada e desprovida de qualquer questão ideológica.

SITUAÇÃO 01

Durante uma campanha eleitoral, eu solicitei minhas férias no trabalho na Coelba, com a intenção de me dedicar ao trabalho de militância. Esse fato, que vou contar, ocorreu no terminal de ônibus que existia na Praça da Sé.
Naquela manhã, bem cedo, pegamos os panfletos na casa de um companheiro e seguimos para o local onde combinamos fazer a distribuição. As pessoas que chegavam, recebiam os panfletos e faziam uma expressão de incomodo. Outras recusavam de maneira grosseira ao ver que era do PT. Também éramos recompensados com a manifestação de muitos que demonstravam apoio.
Como aquele trabalho era feito quase sempre por militância remunerada, eles não conseguiam entender que estávamos ali sem ganhar qualquer coisa e éramos os que pagavam pelo material impresso. Um era engenheiro, outro médico, outro professor, motorista ou de varias outras profissões.
Depois de concluída a nossa tarefa, eu continuava refletindo na maneira como estávamos sendo recebidos pelas pessoas. Nosso discurso estava equivocado. Ele funcionava bem no seio das categorias organizadas, era um discurso muito rico em conceitos filosóficos e teóricos. O radicalismo das ideias ainda era um inconveniente muito difícil de ser processado por quem não poderia ter informações ideológicas.
No entanto, também identifiquei outros reflexos positivos. Éramos pessoas com argumentações claras na defesa dos nossos candidatos, o que nos diferenciava dos militantes de aluguel, assim como, as abordagens eram educadas e intensas.
Quase saindo da Praça da Sé, estávamos famintos e resolvemos fazer um lanche. Paramos junto de um rapaz que vendia cachorro quente. Ele parecia encantado olhando nossas camisetas vermelhas com a estrela do PT.
- Onde eu consigo uma camiseta dessas? – ele me perguntou na hora que me entregou o cachorro quente.
- Você compra na sede do partido! – Eu respondi.
- Quanto custa? – Ele se mostrou interessado. – Quero também um adesivo para colocar no meu carrinho. Catei vários panfletos que as pessoas jogaram fora, depois eu distribuo lá onde eu moro.
Nesse momento eu fui apanhado de surpresa. Não pensei duas vezes, estava com outra camiseta por baixo daquela vermelha. Despi com prazer a minha camiseta e dei para o vendedor ambulante. Ele a vestiu imediatamente se desmanchando em agradecimentos. Ali estava a recompensa maior por todo o trabalho de minha militância naquele dia.
Ele ainda me surpreendeu novamente. Fez questão de não cobrar o meu cachorro quente. Era a contribuição que ele poderia oferecer naquele momento.

Refletindo

Depois de participar ativamente na militância eleitoral durante as campanhas, ainda havia uma aflição em mim que precisava ser esclarecida e para isso, voltei aos fundamentos básicos da Sociologia. A pirâmide social.
Essa aflição se dava por conta de minha observação quando distribuía panfletos ou conversava com algumas pessoas provenientes das divisões das três camadas sociais. O preconceito e a rejeição em relação ao PT e ao socialismo, era muito grande entre as pessoas da camada social média e a considerada baixa renda.
A teoria da Sociologia explicava um pouco desse motivo avesso, no comportamento das classes.
No topo da pirâmide, está uma classe que não quer mudar qualquer coisa. Eles estão confortáveis e seguros. São ricos e poderosos. O comunismo havia sido um alerta para eles, que geralmente são ignorantes, mas não são desprovidos de inteligência. Até conseguiram impor um conceito absurdo e muito útil na manutenção de seus interesses.
“Só se fica fico, nascendo rico ou herdando, ganhando um premio na loteria ou roubando”.
Dessa maneira, a classe média era influenciada por eles que também dominavam os meios de comunicação e dessa forma, invadiam com as suas propagandas nocivas toda a sociedade.
O trabalhador da classe média, por natureza essencial, é honesto, ingênuo e muito desconfiado. Essas qualidades magníficas, algumas vezes impede a aceitação de uma mudança ideológica. Ele tem medo de nunca passear pelo mesmo condomínio de luxo da classe dominante, embora nem ele mesmo acredite que chegará lá. Por esse motivo, fica muito sensível ao discurso dos poderosos.
Mesmo sendo eles que teriam um ganho imediato com o Socialismo, se apavoram. E ao mesmo tempo, ficam desconfiados com os políticos que podem surgir do meio deles. São possíveis candidatos a uma riqueza instantânea, devido aos grandes salários que os eleitos passarão a ter.
Podemos então perceber que existe nesse comportamento a Inveja. Eles não conseguem ficar ricos e não querem deixar, que outros, ao serem eleitos se beneficiem com o seu voto e seu esforço político. Sem a convicção Ideológica, isso tem um sentido próprio e justificável. Só que eles não se colocam disponíveis para candidaturas. Preferem deixar quem já participa do poder, continuar a manter as posições sem a sua interferência e contribuição.
Geralmente são omissos! Não acreditam na honestidade de um trabalhador que é como ele ou ainda pior, se for mais pobre. “Ele quer é se dá bem!” Dizem a todo instante.
Na base da pirâmide social, está a grande massa que culturalmente não tem grandes acessos ao conhecimento mais elaborado das questões Ideológicas. Eles reagem movidos pelo interesse imediato.
Não importa para eles quem será eleito, desde que o seu voto signifique algum ganho pessoal. Não se deixam levar por um discurso e sim pela caricia de uma atenção no momento ou principalmente por um objeto mais concreto. Trocam seus votos por comida, por tijolos ou até mesmo pela promessa de um emprego. As ofertas sedutoras da Direita são inúmeras.
O que mais me impressionou no inicio do PT, era a força que ele conquistava, justamente nas regiões mais ricas do país. No norte e nordeste, prevalecia o pensamento aproveitador e imediatista da base da pirâmide social.

SITUAÇÃO 02

A eleição para prefeito de 1988 foi espetacular. Não tanto pelo resultado obtido nas urnas, muito mais pelo movimento provocado junto da população. Ainda não havia uma aceitação muito grande pelo PT, nem era confiável a possibilidade de sucesso. Éramos uma zebra correndo contra cavalos puro sangue.
Durante a escolha de quem seria o candidato ideal, um Deputado que era muito próximo de mim, me comentou a sua preocupação. Os critérios para a escolha dos candidatos estavam sendo deturpados no coração do partido. A prioridade não era mais a força Ideológica e sim a possibilidade de sucesso eleitoral.
Para ele, a força dos parlamentares estava superando o poder da militância nas decisões. Afinal de contas, boa parte dos financiamentos era fruto do que o partido arrecadava deles. Não se esperava uma campanha como as anteriores. Seria tudo bem mais elaborado e por isso com custos bem maiores.
A escolha de um candidato oriundo do topo da pirâmide foi uma estratégia, que se mostrou produtiva. Conseguimos penetrar em todas as outras camadas da pirâmide social. No entanto, a que sofreu menos influencia foi na base, os que são considerados pobres.
Durante a campanha, chegamos a creditar que haveria uma grande chance de disputar o segundo turno com a Direita. Essa expectativa não foi confirmada. Mesmo ganhando confiança da elite, fomos derrubados pelo populismo e o imediatismo interesseiro. Ficamos muito longe da vitória, mas o ganho foi imenso e reproduziu uma força crescente nas campanhas seguintes.
O comentário do parlamentar sobre a influência dos eleitos no poder do partido, começava a se tornar um fato real. Nem sempre a questão Ideológica consegue ser mantida como resposta para tudo.

CONJUNTURA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES

Mesmo aqueles que não toleram o PT, são obrigados a reconhecer que a fundação dele alterou a conjura política do Brasil. Com essa afirmação, não estou querendo de maneira alguma desprezar a colaboração efetiva dos Partidos Comunistas.
O que aconteceu com eles, foi uma falta de cuidado com a avaliação política, não observaram a conjuntura nova que se desenhava e na qual o mundo estava vivendo. Mas essa conversa fica para eles. Não podemos comentar um problema que não é nosso. Devemos a eles respeito e admiração.
O comunismo foi uma grande escola. A revolução de Cuba, sem qualquer duvida, foi o evento mais marcante de todos os tempos. Chegou a superar em importância a todas as outras. Os detalhes foram preciosos para a elaboração de novos pensamentos e modo prático no enfrentamento ao capitalismo.
Por mais que a Direita tente negar, a América se transforma sob uma influência de Cuba. Os grandes heróis modernos e Latinos são provenientes da revolução cubana, Fidel Castro e principalmente Ernesto Guevara (Che Guevara). A ideia do PT só foi possível quando muitos dos nossos companheiros retornaram de Cuba, onde estavam exilados ou foragidos.
Nossos verdadeiros Socialistas não se refugiaram em Londres, Paris ou nos Estados Unidos.
O conceito político do Partido dos Trabalhadores se transformou logo num exemplo para o mundo, da mesma maneira que o modelo do novo sindicalismo foi exaltado e copiado. A ideia das militâncias reunidas em núcleos é semelhante ao desenvolvimento praticado pelos comunistas, só que aplicava e mantinha diferença básica da democracia interna real.
Como sempre, o poder institucional tem a capacidade de destruir algumas reservas ideológicas já estabelecidas. Principalmente quando ele não foi conquistado numa revolução armada. Nessa situação, se torna evidente a necessidade de muitas concessões, ainda mais quando estamos obrigados a manter o sistema capitalista a nossa volta.
Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para Presidente em 2002, todos nos ganhamos e todos nós perdemos. Essa ambiguidade é um fato que não se pode negar. O presidente é nosso, a maioria dos deputados e senadores são políticos viciados, corruptos e comprovadamente da Direita.
Para o presidente anterior, Fernando Henrique, isso não se tornou problema. As concessões que ele foi obrigado a fazer não diferiam muito da proposta do seu partido que não tem nada de ideológico. Os integrantes do PSDB eram oriundos da antiga Arena e mais tarde PDS e depois PFL, partido da Ditadura Militar e do centro direita do PMDB, que perderam espaço nos seus partidos onde estavam escondidos.
No PT a história é outra. Governar com a necessidade dos votos do Senado e da Câmara para fazer o país se modificar, não seria uma tarefa muito fácil. Muitos dos objetivos teriam de ser suprimidos. O brasileiro perdeu uma grande oportunidade de avançar mais rapidamente, ao escolher uma maioria de parlamentares sem qualquer compromisso Ideológico com o projeto de governo para o qual Lula fora eleito.

O QUE ESTAMOS PERDENDO

Para o Brasil chegar onde desejamos, estamos carecendo de uma ampla reforma no sistema político eleitoral, no Judiciário e na atitude cultural dos eleitores. No entanto sabemos, que a maioria dos políticos profissionais não querem mexer nessa estrutura antiquada e ineficiente. Ela é muito eficiente para eles. Não podem ser cobrados e continuam negociando seus votos parlamentares.
A infinidade de siglas partidárias no congresso cria um enorme abismo, entre os mecanismos para o desenvolvimento do país e a necessidade das reformas. Ninguém sabe ao certo quem é aquele deputado ou senador, no que ele pretende votar ou qual será a próxima sigla que ele adotará ao ser contrariado nos seus interesses escusos.
A todo instante, políticos mercenários e sem qualquer compromisso com que o elegeu, se deslocam de uma sigla para outra como mariposas que voam de uma lâmpada para outra. Fundar um novo partido é tão fácil que eles nem se preocupam com o que podem pensar deles. Reúnem meia dúzia de comparsas, elaboram um motivo qualquer para um abaixo assinado e recolhem assinaturas.
Pronto. O registro do novo partido pode ser feito e ninguém questiona a maneira como aquelas assinaturas foram obtidas. Quem assinou, algumas vezes nem sabe das intenções daquele que pediu para que assinasse.
Não estou contra novos partidos e a liberdade partidária. Estou apontando é para a Libertinagem Partidária. Não possuem projetos nem defendem uma ideologia. São apenas genéricos. Letrinhas que se juntam para negociar candidaturas e abrigar novos e modernos coronéis políticos com métodos muito antigos. Um mercado muito lucrativo.
Diante desse quadro sendo redesenhado e o eleitor permanecendo alheio e distante das diferenças entre as propostas políticas, não ganhamos o poder. Apenas elegemos um presidente e rascunhamos uma transformação social. Até o PT foi contaminado pelo pensamento equivocado. Ele perde militância ao ocupar um poder que não consegue ser real, apenas um cargo  consentido.
No momento em que o PT acredita ter se tornado poderoso, envolvido pelas negociações com os parlamentares mesquinhos e sem qualquer ideologia, termina excluindo a militância das decisões. O militante por sua vez recua, não se sente necessário e sim dispensado como alguém que foi demitido.
A falta de participação nas decisões do partido permite muitos absurdos em nome da força para manter o poder. Aceitam filiações de pessoas que nunca deveriam nem passar pela porta do PT e assinam suas candidaturas. Com isso perdemos, elimina-se uma característica muito forte do partido.
Com a verdadeira militância ideológica e romântica, não se busca cargos políticos, nem de assessores, apenas a vitoria de uma ideia. A formação de um gabinete ou de um conjunto executivo de governo deve ser sempre um encargo de competência, uma missão de comprometimento. Quando necessário, o militante é convocado para essa função, não para um emprego.
Precisamos cuidar do nosso convencimento ideológico.

AVALIAÇÃO E REFLEXÃO

No inicio dessa conversa, eu indaguei:
Será que a Militância Ideológica e Romântica acabou depois de primeira eleição de LULA? Terceirizaram a militância de esquerda copiando a prática da Direita?
Eu tenho a minha avaliação. Ela não é pessimista e sim baseada nas observações que fiz em momentos diferentes. Acredito que cada um pode ter a sua opinião, no entanto, ao final, concordaremos com uma mesma coisa.
“O BRASIL MUDOU DE VERDADE e pra melhor”

Ainda estamos longe do objetivo Ideológico. Nossa militância não é mais necessária embora fosse recomendável. Mesmo assim, a eleição de Lula foi um grande passo para a transformação social, não só no Brasil, como interferiu positivamente no curso democrático da América Latina.
Não devemos exigir mudanças radicais em tão pouco tempo. Podemos correr o risco de cometer os mesmo erros do passado e na aplicação desvirtuar a ideia original. Um passo ainda tímido, mas será assim que estamos na estrada do Socialismo.
O ser humano por natureza nunca será capaz de habitar um mundo Anarquista. Ele é egoísta e vaidoso, por mais ideológico que seja. Pode se conter, mas um dia aparece a ferida aberta. Mesmo que você esteja imune a essa doença, mantiver inalterada a sua filosofia de vida e impecável conduta ideológica, sempre haverá um companheiro que escorrega e adoece ao seu lado.
As decepções sempre são elementos fortes e que desmotiva, mas não devemos perder o foco Ideológico. Se alguns companheiros fraquejarem, nossa convicção deve ser fortalecida, devemos estudar mais, devemos oferecer mais informações e ganhar novos companheiros.
Na ultima eleição municipal, em 2012, ficou acentuado o meu sentimento de final da militância sem fins lucrativos. Além de ficar empanturrado com a mesma generalidade das propostas em todas as propagandas dos candidatos, não importava a sigla que abrigava a candidatura. O pior mesmo era que dava para notar a falta de entusiasmo nos eleitores.
Até a primeira e fabulosa eleição de Lula para Presidente, a participação do eleitor era o diferencial. Mesmo que muitas das propostas já não revelassem mais a mesma mudança que sempre desejamos. Para nós militantes, cada eleição se transformava numa final de campeonato, uma festa. Isso ficou como uma boa lembrança de um passado recente. As campanhas são profissionais, a militância fica de fora, elas foram terceirizadas.
Agora eu me pergunto: Será que me afastei tanto assim do partido ou foi ele que se afastou dos meus anseios Ideológicos?. O que será que ainda falta para destruir a beleza que encantou o mundo com a criação do PT? Poder e convicção nem sempre podem conviver de mãos dadas? Não suporto mais tantas concessões.
O mundo foi reconfigurado pela tecnologia. Essa é uma grande aliada e ao mesmo tempo uma arma sempre apontada para facilitar o fuzilamento Ideológico numa propaganda bem feita. O bom de tudo isso é saber que o Capitalismo está com seus dias contados, ele não consegue manter o consumismo como fonte do seu fortalecimento. Ele é AUTOFÁGICO.
A Luta para se alcançar o socialismo é uma longa batalha onde as nossas armas nem sempre estão carregadas o tempo inteiro. Vale a pena tanto esforço para alcançar um modelo político justo e coerente? Eu ainda acredito que se necessário, repetiria todos os passos, mas agora tenho certeza que não teria essa necessidade. Caminhamos o suficiente para chegar um dia ao final da caminhada.
Mesmo que sejam meus netos, bisnetos ou tetranetos. Sou incorrigível, um militante com Ideologia política romântica.
Quanto ao restante das perguntas, que cada um responda para si mesmo e busque alterar o que não estiver de acordo com a sua convicção IdeológicaPolítica e se encaixe na sua expectativa de militância Romântica.


FIM